Ficar ou permanecer?

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Que mundo doido esse em que vivemos! Conceitos e valores estão tão invertidos e deturpados que às vezes  me fazem questionar se não vim de algum outro planeta.





Amar, se relacionar, está fora de moda. Querer namorar, ser fiel, se comprometer, se tornou piada, se tornou errado. Algo que causa espanto e estranheza. O certo é “ficar” (Ficar? Ninguém fica, todos se vão ), sexo fácil e sem compromisso. No mínimo alguns beijos sem maiores complicações, onde muitas vezes nem saber o nome do dono (a) da boca beijada é importante. Me parece às vezes que as pessoas possuem algum tipo de alarme interno que toca desesperado ao menor sinal do “perigo” de se apegar, porque se  o coração bater mais forte e a vontade de permanecer for maior que a de simplesmente “ficar”, é hora de sair correndo! Socorro!  E que venha o próximo(a)! Afinal a tal da fila tem que andar. Rápido e indolor ( indolor?).
Isso sim esta na moda. Ou será que é uma epidemia? Pra mim epidemia faz mais sentido, comportamento doentio esse. Onde o medo de amar , e de ser amado, é o pior sintoma.

Essa tem sido uma queixa constante no consultório e também entre amigos de ambos os sexos. A frustração de algo que acaba justamente quando estava começando a ficar bom. Eu mesma já fui uma que acabou sozinha após alguém entrar em pânico por perceber que estava correndo  o fatal risco de se apegar.
Já amou e se machucou? Quem nunca? Mas qual criança deixou de brincar porque alguma vez caiu e ralou os joelhos? Onde as pessoas perderam o dom de se levantar após a queda? Onde as pessoas perderam o dom de amar depois de amar e se frustrar? Onde as pessoas se perderam?





Zumbis, mortos vivos! Se arrastando pela vida, sem viver.
De bar em bar, de cama em cama, no final sozinhos, solitários, infelizes. Por medo, por covardia!
E Amar não é pra covardes! Amar é perigoso e pode sim machucar profundo e revirar a vida pelo avesso. Mas se for pra correr perigo,se for pra se revirar, se reinventar, que seja por amor! Nada valeria mais a pena. Nada seria mais precioso.
Amor não tem prazo de validade nem certificado de garantia. Não se tem como saber se aquela pessoa que despertou seu interesse e fez seu coração bater mais forte vai ser o amor da sua vida ou se vai embora sem deixar maiores marcas. Se será uma paixão passageira ou vai ser o amor da sua vida por um tempo e depois se transformar em outro sentimento diferente no lugar do que um dia foi amor. Talvez vire amizade, ou talvez uma bela lembrança pra ser guardada com carinho. Talvez realmente não vire nada. Mas como saber sem antes tentar? Sem antes se arriscar, sem permanecer tempo suficiente pra conhecer de verdade o outro, e permitir que o outro o conheça, sem antes se submeter a vontade soberana do coração que naquele momento pede pra permanecer.
Por medo de tentar, amores são abortados. Nunca se saberá como seria o fim da estória.  E se fosse realmente amor?  Aquele amor que no fundo todos desejam. O amor pode ter ficado perdido no meio da fila que rápido demais andou. E agora pode ser tarde demais.





Sou do time dos corajosos, dos fora de moda, dos que ainda acreditam em romance e mãos dadas ao pôr do sol, que adora ver filmes agarradinhos, dormir de conchinha, dar beijos intermináveis e sorrisos bobos.  Dividir sonhos e projetos, construir juntos. Ter e ser companhia nos momentos difíceis, porque amar é também estar perto nos piores momentos. Enfim, todos os clichês que só quem já amou sabe o quanto podem ser mágicos e com o poder de curar a vida.

Sou do time dos que estão dispostos a permanecer e não só “ficar”.  Dos que ainda são fieis ao que sentem, dos ainda se arriscam, dos que não saem correndo na primeira crise, dos que pagam pra ver , dos que ficam tempo suficiente pra ter certeza se vale a pena ou se realmente é melhor ir embora, sou do time dos que ainda não adoeceram de tanto medo.
Apesar das dores, apesar das decepções,apesar do medo ,que também sinto, ainda não desisti.
E você?

About the Author Maíra Alves

Psicóloga clínica e facilitadora de grupos de Constelação Familiar Sistêmica. Coleciona bonecas e boas estórias. Fotografa o que encanta os olhos e a alma. Escreve para expressar o que passa na mente e no coração. Pinta e borda, literalmente. Apaixonada pela vida, romântica inveterada e com a incurável mania de ver sempre o lado bom das coisas.

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