Quando a paixão se torna amor e quando o amor acaba

“Aprendi que amar não significa estar junto, mas sim querer ver a pessoa feliz, mesmo que isso custe a sua felicidade.” John Tyree – Channing Tatum (filme). É muito ruim quando amamos alguém e não conseguimos ser parte do que motiva essa pessoa a alcançar a sua felicidade e não nos sentirmos livres pra continuar lutando pela nossa concomitantemente.






Ruim quando o ser o que somos não é, de alguma forma, suficiente. Mas como diz a letra da música: “é sempre amor mesmo que acabe…”, e sendo amor não acaba nunca, apenas os planos, sonhos desejos e interesses que podem em algum momento de vida não se encaixar… então esta tudo bem… “aprendi que amar não significa estar junto, mas sim querer ver a pessoa feliz…”

E esta tudo bem, porque não há culpa, não fracassou, pelo contrário, funcionou! Deu certo, sim! Devemos entender que onde houve respeito, companheirismo e não brigas, disputas e mágoas a partir de decepções, funcionou sim. E foram apenas encaixes, interesses que, embora comuns, talvez não com a mesma força e/ou ordem de prioridades, não fecharam. Quem sabe um dia possam coincidir, mas não sabemos. Não há amor que acabe de fato, se for amor, ele apenas se transforma.






Todos projetamos, idealizamos o outro em qualquer início de uma relação (mesmo dita saudável), isso faz parte do apaixonar-se. Aliás, a palavra “paixão” tem em sua uma raiz o significado que acho lindo, poético: paixão significa “inflamação dos sentidos”, ou seja, apaixonar-se é ter os sentidos inflamados, febris e portanto fora da suas capacidades normais. Como dizem os ditos mais antigos – o apaixonado vê com outros olhos. É a mais pura verdade.

Mas logo em seguida, felizmente, vem o amor. Esse é diferente, bem diferente. O ser já não tem mais seus sentidos inflamados e pode ver o outro como ele realmente é, amá-lo com seus defeitos e virtudes, por vezes até odiá-lo pelo que vê no outro como espelho de si mesmo, mas por fim amar, cuidar, respeitar as diferenças e passar também a ser mais pleno, natural, individuado. Um ser, para então poder ser também visto com seus defeitos e virtudes e apesar deles ser amado.

Por isso o amor não acaba, as pessoas quando se amam, querem a felicidade um do outro. Entendem que cada um deu o melhor de si, e não há maiores ressentimentos quanto a isso, e continuarão desejando o melhor pro outro, continuarão amigos, continuarão amigos dos amigos… e a vida segue.






Nos funcionamentos onde isso não é possível, seja na psicose ou no funcionamento perverso, não há tristeza mas também não há completude… já no funcionamento neurótico existe sempre uma possibilidade de aprendizado, evolução e construção de um amor verdadeiro, onde de fato cada um queira o melhor pro outro – sua felicidade.

Claro que, seguindo a linha da Psicanálise, o funcionamento neurótico (o da grande maiorias de nós) também tem seus desvios, seus “transtornos” – histerias, obsessões, fobias, etc… que mesmo que transitórias habitam nosso ser, permanecendo por mais ou menos tempo de acordo com a evolução e auto conhecimento de cada um.

Destaquei uma citação – “o Neurótico, de fato, histérico, obsessivo ou, mais radicalmente fóbico, é aquele que identifica a falta do outro com a sua demanda.” Jacques Lacan, 1960. Sou muito feliz que isso não aconteça em meus relacionamentos, mesmo reconhecendo que em alguns momentos transitórios isso pudesse aparecer, mas nada além disso. Sou feliz em poder amar e ser amado na plenitude do que posso ser.

Em tempo, notem que… a linguagem da citação de Lacan, enfatiza a força da reflexão, ou seja, o problema esta em identificar uma suposta falha do outro a partir de uma necessidade minha… Se sou eu que preciso, o problema é meu e não uma falta do outro. Ninguém vem ao mundo pra satisfazer as expectativas do outro.

Aos poucos esse “tal de” Lacan vem me interessando… afinal é o cara que nos convida a entrar na psicose do paciente… e com humildade dizia em uma de suas entrevistas: “se quiserem ser Lacanianos que sejam, eu sou Freudiano”.

About the Author Aless Oliveira

Alessander Pires Oliveira - Formação e vocação em Ciências da Computação, também apaixonado por psicanálise, tocar guitarra e design. Providenciando o Bacharelado em Psicologia ;-) "Não compartilho meus pensamentos por que penso que vou mudar a cabeça das pessoas que pensam diferente. Eu os compartilho para mostrar as pessoas que pensam igual a mim, que não estão sozinhas."

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