Aulas, por favor?!

A chamadas aulas expositivas foram procedimentos empregados em sala de aula e possivelmente você tenha em mente vários exemplos de aprendizados através dessa técnica. Foi praticada como instrumento principal, senão único, de ensino até que em determinado momento do século passado (ou um pouco antes) passou a ser questionada e mal vista por muitos. Aqui inicia-se esse texto como um contra-ponto, uma discordância e uma reflexão ao ponto em que chegamos das instituições de ensino fundamental, médio e superior.





Esse método expositivo tornou-se então uma representação de um ensino tradicional, diretivo e estigmatizado como apenas uma transmissão de conhecimento do mestre para o aluno (mesmo que fosse somente isso, qual o problema?!). Mas não é bem assim, entendemos que de fato uma aula bem planejada e realizada de forma expositiva em que o professor atua como um protagonista e conduz a turma para um raciocínio é ainda o melhor meio de ensinar determinados conteúdos e garantir a aprendizagem. Acima de tudo, torna o serviço de ensinar, válido e justificável como algo a ser ofertado/vendido, caso contrário já entendemos que cada um é capaz de construir seus conhecimentos por conta própria e diplomar-se ou não seria apenas uma questão comprobatória de seu esforço individual mediante as inúmeras formas gratuitas de aprendizagem, estudo e pesquisa de que dispomos hoje em dia.





Certamente a aula expositiva não será tudo, não deverá ser o único recuso para aprendizagem. Inúmeros recursos, atividades e outras tantas questões devem contemplar o entendimento do que é de fato aprendizagem. Neste ponto quero me ater especificamente a questão do ensino como um serviço pago. Como uma relação (sim – de mestre aluno) ao qual nos submetemos e/ou esperamos ao contratar os serviços de uma instituição de ensino, por exemplo.

Percebemos que essa associação totalmente equivocada entre [aula expositiva] e [didática ultrapassada], fez com que muitos docentes, de forma perniciosa ou não, deixassem de fora o planejamento de aula (sobretudo expositivas). Parece que existe um “não querer ver” que não será a atividade em si que indicará se estamos seguindo uma ideia tradicional ou não, mas sim a forma como atuamos em sala de aula.

“Aula expositiva se consolidou como prática pedagógica na Idade Média pelas mãos dos jesuítas. A transmissão do conhecimento, sobretudo pela linguagem verbal, era uma corrente hegemônica. Acreditava-se que bastava o mestre falar para as crianças aprenderem. O século 20 trouxe luz sobre o processo de ensino e aprendizagem, e pesquisadores como Jean Piaget(1986-1980), Lev Vygotsky (1896-1934), Henri Wallon(1879-1962) e David Ausubel (1918-2008) demonstraram a importância da ação de cada indivíduo na construção do próprio saber e o papel do educador como mediador entre o conhecimento e o aluno. Com base nisso, passou-se a valorizar outras formas de ensinar, como aquelas que envolvem a resolução de problemas, os trabalhos em grupo, os jogos e as pesquisas.” – Elisângela Fernandes

Entretanto, desta forma penso que abriu-se um grande espaço para a institucionalização da preguiça docente, a falta de vontade ou mesmo vocação pra ensinar. Muitas vezes serão apenas leituras, indicações pífias de materiais diversos (como se o “google” fosse desconhecido), tentar promover pseudo pesquisas e exigir em aula, de uma forma muitas vezes tosca, a participação de cada aluno sobre aquilo que leu.





Onde andaria Sócrates hoje, que falava entusiasmante de si e aos seus discípulos trazendo conteúdo de fato à reflexão. Onde andaram os professores de verdade?! Os que não se escondem atrás de um construtivismo ao qual ironicamente muitos não querem fazer parte, pois dá trabalho participar de fato na construção de cada aluno. Onde esta o prazer de ensinar, trazer, expor, planejar aulas, decodificar ideias, carregar o aluno e incentiva-lo ao querer saber mais a partir de um determinado ponto concreto, onde estão as aulas?!

Entendo o principio construtivista que diz que cada aluno deve ser responsável pela construção de seu conhecimento, mas acho que ele foi deturpado e professores preguiçosos ou perniciosos (sendo assim, não os entendo como professores) se escondem atrás disso, e dão aulas terríveis… ou pelo lado “business” da coisa, um serviço de péssima qualidade e sem relação de mais-valia nenhuma com o aprendizado do aluno e os valores investidos.

Por fim, olhemos um pouco para o EAD (Ensino a Distância) e aos inúmeros cursos que, pessoas leigas ou não, tem construído e disponibilizado na rede de forma gratuita ou com valores acessíveis e condizentes com o material entregue que, não por acaso e em sua essência, são expositivos. Hoje vemos professores em universidades que sequer gravadas suas aulas poderiam ser. Elas não existem, resumem-se a “seminários” debates de leituras sem uma orientação clara, um mapa conceitual, uma decodificação mínima do conteúdo sequer. O que por fim traz a reflexão da decadência do ensino como um todo, a de que esse ensino pago esta fadado a falência se continuar promovendo e ofertando não professores de verdade e vocação, mas pessoas que ocupam um espaço nobre sem dignificá-lo. Pessoas que, apesar de talvez terem adquirido um nobre e vasto  conhecimento, não tem a menor ideia de como e sobretudo vontade, tesão para expô-lo a seus alunos, quanto mais instigá-los a ir além dele.

About the Author Aless Oliveira

Alessander Pires Oliveira - Formação e vocação em Ciências da Computação, também apaixonado por psicanálise, tocar guitarra e design. Providenciando o Bacharelado em Psicologia ;-) "Não compartilho meus pensamentos por que penso que vou mudar a cabeça das pessoas que pensam diferente. Eu os compartilho para mostrar as pessoas que pensam igual a mim, que não estão sozinhas."

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