Mais de um em cada 10 americanos com mais de 12 anos toma antidepressivos, de acordo com um relatório de 2011 do National Center for Health Statistics. Um número bem significativo, mas ainda desconhecido, de crianças com menos de 12 anos também o tomam. Mas as informações sobre os riscos de suicídio e agressividade em crianças e adolescentes que tomam estes medicamentos foram suprimidos.






Embora a maioria dessas drogas não sejam aprovadas para as crianças, os médicos as têm prescrito ”secretamente” durante anos, porque se acreditava que os efeitos colaterais dos antidepressivos eram relativamente suaves. No entanto, relatórios recentes revelaram dados importantes sobre a segurança destas drogas – especialmente dos seus riscos para crianças e adolescentes.

Na última e mais completa análise, publicada em janeiro, os pesquisadores do Centro Cochrane Nordic, em Copenhague, mostrou que as empresas farmacêuticas não têm revelado toda a extensão dos graves danos em seus relatórios de estudos clínicos, que são os documentos enviados às autoridades reguladoras como o Food and Drug Administration dos EUA e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) da Europa, quando se candidatam à aprovação de uma nova droga. Os pesquisadores examinaram os relatórios de 70 duplo-cegos, controlados por placebo de duas categorias comuns de antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina (SSRIs) e inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina (SNRIs), e descobriram que a ocorrência de pensamentos suicidas e comportamentos agressivos duplicou em crianças e adolescentes que usaram estas drogas.






Os investigadores descobriram que algumas das informações mais reveladoras foram escondidas em apêndices onde os resultados individuais dos pacientes estão listados. Por exemplo, eles descobriram casos claros de pensamentos suicidas que tinham sido relatados como “fraqueza emocional” ou “piora depressiva” no próprio relatório. Esta informação, no entanto, estava disponível em apenas 32 dos 70 exames. “Descobrimos que muitos dos apêndices eram disponibilizados apenas mediante pedido às autoridades, e as autoridades geralmente não autorizavam”, diz Tarang Sharma, um Ph.D. estudante na Cochrane e principal autor do estudo. “Na verdade eu tenho muito medo sobre o quão ruim pode ser a situação real se tivéssemos os dados completos”.

Este estudo “confirma que a dimensão efetiva a respeito dos danos causados pelos antidepressivos não está relatada”, diz Joanna Moncrieff, psiquiatra e pesquisador da University College de Londres, que não participou do estudo. “[Estes danos] não estão relatados na literatura publicada, sabemos disso, e parece que também não estão devidamente relatado nos relatórios clínicos que vão para os reguladores e formam a base das decisões sobre o licenciamento dessas drogas.”






Os pesquisadores lutaram por muitos anos para ter acesso aos relatórios dos ensaios clínicos, que são muitas vezes retidos sob o pretexto de confidencialidade comercial. “Todo esse sigilo custa vidas humanas”, diz Peter Gotzche, um pesquisador clínico na Cochrane e co-autor do estudo. Recentemente o EMA, depois de ter sido acusado publicamente de má gestão, liberou o acesso, mas nos EUA estes documentos continuam inacessíveis. “É profundamente antiético quando os pacientes se voluntariam para beneficiar a ciência, mas são as empresas farmacêuticas que decidem quem pode e quem não pode ter acesso aos dados brutos”, diz Gotzche. “O teste de drogas deve ser um empreendimento público.”

O fato de que os antidepressivos podem causar ideação suicida já foi provado antes e, em 2004, a FDA obrigou que essas drogas tivessem uma tarja preta na caixa reservada para os alertas dos perigos mais graves. A EMA tem emitido alertas semelhantes. No entanto, ainda não há no rótulo nenhuma menção aos riscos do comportamento agressivo. Embora relatos sobre comportamento hostil estejam presentes em vários estudos de caso, o estudo BMJ foi o primeiro trabalho em grande escala que demonstrou um aumento significativo no comportamento agressivo em crianças e adolescentes. “Isto obviamente é importante no debate sobre os tiroteios em escolas [dos EUA] e em outros lugares onde os autores frequentemente estavam fazendo uso de antidepressivos”, diz Moncrieff.

Tomado em conjunto com outros estudos – incluindo aqueles que sugerem que os antidepressivos são apenas marginalmente melhores que placebos – alguns especialistas dizem que é hora de reavaliar o uso generalizado desses fármacos. “Minha opinião é que nós realmente não temos evidências suficientes de que os antidepressivos são eficazes, mas temos evidências crescentes de que eles podem ser prejudiciais”, diz Moncrieff. “Então, precisamos parar esta tendência crescente de prescrevê-los.”