TDAH em adultos

Por: Arianna Milhomens, Psiquiatra

 

Boa tarde, esse texto curto redigido por mim foi baseado em informações científicas e na prática  clínica. Foi feito pensando na população que acessa o facebook, que não tem muito tempo, e precisa de uma leitura fácil, bastante didática e envolvente. Espero poder contribuir para a disseminação do conhecimento e principalmente, para a diminuição do preconceito relacionado aos transtornos mentais. Sou psiquiatra geral, mas logo fiz subespecialização em psiquiatria da infância e da adolescência. Tenho uma pagina no face, viva sem neura Espero que gostem.

 


TDAH em adultos

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) era uma doença creditada somente às crianças até o final da década de 80. Ora, essas crianças crescem… e se tornam adultos! Na verdade muitos evoluem com melhora, mas entre 40% e 60% continuam sintomáticos. Os sintomas podem ser grosseiramente divididos em dois grupos:

1- Os que se relacionam com a hiperatividade e impulsividade

A pessoa tem uma inquietação motora e mental, não consegue ficar parada nas situações em que isso é esperado, mexe as pernas, se levanta, anda muito, tem muita energia,” é ligada na tomada”. Já ouvi no consultório que “até meu sono é inquieto, só consigo relaxar quando tomo anestesia”. Exageros à parte, o sono muitas vezes é agitado mesmo.





A hiperatividade mental se manifesta pelo fluxo contínuo de idéias, sendo que às vezes é difícil acompanhar o raciocínio deles. Começam várias tarefas ou projetos de uma só vez, mas muitas vezes os abandonam no meio do caminho, ou por perder o entusiasmo ou por achar outra coisa mais interessante pra fazer ou por se distrair e acabar esquecendo. Pode se traduzir por um excesso de atividades e/ou trabalho, os chamados workaholics. Além disso, estão sempre em busca de novidades. Por isso não é incomum encontrá-los praticando esportes radicais ou, numa versão “barra pesada”, fazendo uso de drogas.
A impulsividade é traduzida pelo falar ou fazer sem pensar. Claro que pode trazer problemas, como ser considerada uma pessoa sem paciência, que interrompe os outros, não espera a sua vez, e até explosiva, podendo levar a brigas, acidentes no trânsito e problemas com a justiça. Pode tomar decisões importantes sem avaliar as conseqüências e depois… Ficar arrependida.

2- Os que se relacionam com o déficit de atenção
A pessoa vive no mundo da lua, tão distraída que é. Esquece de pegar o filho na escola- várias vezes no ano-, vive perdendo a chave de casa, o celular, os óculos, esquece da consulta médica, do aniversário do pai, de pagar a conta de luz, esquece a bolsa com todos os documentos no caixa do supermercado, esquece até se passou perfume. Numa conversa em grupo, é fácil perder o foco e ficar submersa em seus devaneios… o que pode ser desastroso numa reunião de trabalho. Muitas vezes é realmente difícil dar início a projetos que exijam atenção, como ler um livro ou um material qualquer que não seja fácil. Então ficam enrolando até o último minuto. Qualquer coisa pode interferir no seu pensamento de maneira a tirar sua atenção: um ruído, uma luz, uma palavra diferente… Uma paciente que estava concluindo sua monografia do mestrado ia para a biblioteca estudar, procurava o local mais quieto, colocava seus plugs (tampões) nos ouvidos- para evitar distrações- e começava suas pesquisas. Ia bem por uns 10 minutos, quando começava então a divagar: “data vênia veio mesmo do latim? Por que o latim é uma língua morta? Foi tão triste a morte da Hebe Camargo…” e por aí vai. Claro que no final do dia ela tinha estudado só a metade do que era esperado.
Para fazermos o diagnóstico de TDAH o paciente tem que apresentar prejuízos em pelo menos dois contextos, por exemplo, na administração de finanças, direção de veículos, capacidade de organizar e manter cuidados com a própria saúde, planejamento de atividades e compromissos, coordenação de grupos, etc. Na prática percebemos que os portadores de TDAH apresentam maior número de divórcios, maiores taxas de desemprego e menor renda média. É comum também a presença de comorbidades, isto é, outro transtorno ocorrendo concomitantemente ao TDAH, como depressão, ansiedade e dependência ao álcool ou drogas. Não é fácil lidar com o sentimento de frustração e de baixa auto-estima à medida que a pessoa vai percebendo os fracassos e os problemas gerados pelo seu comportamento, e essa auto-imagem negativa pode se solidificar ao longo dos anos.

Felizmente temos como minimizar esses sintomas. Existem no Brasil várias medicações seguras para o tratamento, que melhoram a qualidade de vida desses indivíduos ao atuar nos sintomas cardinais do transtorno. A escolha do medicamento vai depender do estilo de vida da pessoa, doenças pré-existentes, dos antecedentes pessoais e familiares, perfil de efeitos colaterais. A psicoterapia também tem uma função importante, ajudando o paciente a se organizar, planejar, gerenciar a distraibilidade e o tão valioso tempo.

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