Cinco coisas que você NÃO deve fazer com o seu bebê

Por Darcia Narvaez

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Eu tinha um cachorro que odiava ser ignorado ou deixado sozinho. Nesses momentos ele mordia os móveis. Bebês também odeiam isso, mas eles não podem morder os móveis para nos informar. Em vez disso, seu desenvolvimento fica prejudicado, e nós e a sociedade temos que conviver com as pessoas ansiosas e deprimidas que resultam disso.

O que não devemos fazer para bebês?

1. Ignore-o (não)


Em condições naturais, os recém-nascidos já se comunicam com a mãe, o pai ou cuidadores. Colwyn Trevarthen tem vídeos que mostram a comunicação entre um recém-nascido com seu pai. Claro, eles não podem falar, mas podem grunhir e mover os braços (o braço esquerdo é tipicamente auto-referencial enquanto o braço direito foca no outro). Algumas mães se comunicam com o bebê no útero, através do canto, lendo, conversando ou até mesmo tocando. Nas culturas indígenas a mãe é a responsável por moldar o espírito da criança através de comunicações como estas, antes e depois do nascimento, e inclusive cria uma música original para a criança.

O programa de pesquisa de Grazyna Kochanska mostrou que isso funciona como uma “orientação mutuamente sensível” que ao longo do tempo promove resultados positivos em áreas como a consciência, comportamento pró-social, habilidades e amizade. Mutuamente-sensível significa que tanto os pais quanto a criança se influenciam no processo, construindo uma relação cooperativa. Trevarthen sugere que este tipo de companhia cuidadosa fornece um ambiente ideal para o desenvolvimento emocional e intelectual. Os pais e a criança desenvolvem suas próprias histórias criativas e jogos que mudam ao longo do tempo.

Por que a relação de companheirismo é particularmente importante para os bebês? Os três primeiros anos de vida representam o momento  em que o entendimento tácito (não-consciente) de como o mundo social funciona é desenvolvido e está ligado ao funcionamento do cérebro (Schore, 1994, 1996). Com o cuidado sensível, os sistemas do cérebro aprendem a trabalhar bem e, assim, mantem a pessoa socialmente saudável e engajada. O que é aprendido cedo durante a vida será aplicado sempre nas relações posteriores (se não for alterado com psicoterapia ou outras experiências significativas).

2. Deixe-o chorar (não)





Imagine pedir ajuda por sentir dor e ser ignorado. Como isso faz você se sentir sobre si mesmo (ruim) e sobre sua família (irritado)? É muito pior para um bebê, porque ele está em fase de desenvolvimento de seus sistemas cerebrais que estão aprendendo os padrões do jogo para a vida social e para o funcionamento fisiológico (saúde). Temos que lembrar que uma grande parte do desenvolvimento da criança após o nascimento ocorre quando 75% do cérebro está desenvolvido (principalmente nos primeiros anos) e os efeitos epigenéticos surgem (funções estabelecidas geneticamente) com base no tipo de atendimento recebido.

Para um bebê, ser deixado para chorar é como uma tortura. Por que penso assim? Porque, tecnicamente, fisiologicamente e emocionalmente bebês ainda devem estar no útero até os 18 meses de idade. Portanto, se os bebês se sentirem regularmente aflitos, seus corpos estão sendo treinados para se sentirem ansiosos e desconfiados de si mesmos e dos outros. O que eles aprendem com o descuido é o conhecimento tácito do que pode não ser perceptível até que seja tarde demais, quando eles se tornarem inflexíveis, egocêntricos e estressados. Conhece alguém assim?

Quando bebês jovens choram eles não estão fazendo birra ou sendo pequenos imperadores. Eles têm necessidades e as comunicam da única maneira que sabem.

Mas se você esperar por um grito antes de aliviar o desconforto, você esperou muito tempo.

Desde o início da relação com um bebê é importante aprender a não deixá-lo chorar. Esta sabedoria é antiga. Os bebês têm dificuldades em parar de chorar, então você não quer que eles comecem. Depois eles podem criar um hábito de chorar. A angústia prolongada pode matar sinapses cerebrais (redes cerebrais programadas para se desenvolverem naquele período) que estão crescendo a uma taxa fenomenal nos primeiros anos de vida.

Para manter o bebê sem gritar, os cuidadores devem prestar atenção aos sinais não-verbais do bebê (inquietação, olhar severo, careta, agito dos braços) e cortar o desconforto pela raiz. Seja qual for a “experiência” do bebê nos primeiros meses e anos de vida, vai criar caminhos no cérebro que serão usados novamente. Então se você quer uma criança (e adulto) desagradável, não cooperativa e agressiva, deixe-o chorar. Caso contrário, mantenha o bebê feliz. Um bebê regularmente angustiado vai construir uma criança desagradável, que mais tarde será a aflição da comunidade.

Agora, devo dizer que, se o cuidador estiver se sentindo tão frustrado a ponto de jogar o bebê contra a parede, nesse caso, o melhor é sair e deixar o bebê chorar. Mas, claro, é melhor não deixar que tal padrão de choro normal se estabeleça nos primeiros dias e semanas de vida.

3. Deixe-o sozinho (não)


O confinamento solitário é uma das piores coisas que você pode fazer para um ser humano e, eventualmente, leva à psicose.

Os bebês foram feitos para estarem fisicamente ligados aos seu cuidadores. Eles não entendem por que estão sozinhos. O bebê vai internalizar um sentido de injustiça e maldade que irá colorir a sua vida.

Imagine ser deixado sozinho em uma terra estranha, onde você não pode se mover ou cuidar de si mesmo. Seria terrível, mesmo que você entenda o que está acontecendo. Por que fazer isso para uma criança?

Bebês humanos são mamíferos que dependem da companhia de adultos para cuidar de suas necessidades até que possam fazer isso sozinhos. Embora algumas pessoas digam que é possível forçar o bebê a desenvolver independência, isso é uma ilusão. Se você isolar o bebê vai acontecer o contrário – ele se tornará carente e necessitado ou calmo e confuso por dentro. Ele internalizará o medo e a insegurança, e levará isso com ele em suas atitudes com relação aos seus cuidadores e ao mundo. É como criar um narcisista. O que mais se pode esperar? O isolamento o ensina a pensar apenas em si mesmo. Uma das características das pessoas que não ajudam os outros em uma situação de necessidade é o sofrimento pessoal (Batson, 2011). A aflição pessoal torna a empatia e a ação compassiva muito improváveis. O descuido com o bebê é uma boa maneira de construir uma personalidade facilmente angustiada, e criar uma sociedade de pessoas auto-interessadas.

4. Não dar colo sempre que possível (por favor, dê colo)

Bebês foram feitos para serem pegos. Isso deve começar imediatamente. As primeiras impressões de você e do mundo são fundamentais. Uma profunda sensação de paz e relaxamento é o que eles vão levar para a vida. Se eles não têm uma experiência regular de relaxamento em braços amorosos, nunca aprenderão a relaxar e desapegar. Isso é vital para a saúde (Kabat-Zinn, 1991).

Quando os bebês são fisicamente separados de seus cuidadores (não estão em “seus braços”), respostas à dor são ativadas, influenciando a presença de vários hormônios e neuropeptídeos (Ladd, Owens & Nemeroff, 1996; Panksepp, 2003; Sanchez et al ., 2001). Estas separações desregulam múltiplos sistemas a longo prazo. Por exemplo, o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), uma parte do sistema de resposta ao estresse, torna-se desregulado e hiperativo (Caldji, Tannenbaum, Sharma, et al, 1998;. Levine, 1994; Plotsky & Meaney, 1993). Mesmo 3 horas de separação diária (em filhotes de ratos – bebês humanos são muito mais dependentes e sociais) causou um estresse suficiente para induzir efeitos epigenéticos que aguçaram a reatividade ao estresse, gerando um déficit de memória na idade adulta (Murgatroyd & Spengler, 2009). Além disso, o toque limitado no início da vida leva a um subdesenvolvimento dos receptores de serotonina, opioides endógenos e oxitocina, elementos químicos que estão relacionados com a felicidade (Kalin, 1993; Meinischmidt & Heim, 2007).

´´Aqui está uma anedota interessante: Um homem branco ao visitar uma aldeia Africana, viu uma criança estendendo a mão para o fogo e automaticamente deu um tapa em sua mão. Um ancião Africano repreendeu sua atitude, dizendo: ‘se você fizer isso vai ter que observá-lo com cuidado para o resto de sua vida”. Ou seja, as crianças precisam aprender sobre seu próprio mundo sem serem superprotegidas ou então nunca irão aprender a se comportar de forma segura por conta própria.´´

5. Bata (não)

Alguns pais batem em seus bebês (quase 1/3 dos bebês de 12 meses idade são espancados nos EUA, de acordo com uma pesquisa recente!) Esta é uma notícia muito ruim. O castigo corporal pode ser uma libertação imediata da frustração para o cuidador, mas, como a maioria dos atos agressivos, tem efeitos negativos a longo prazo.

Lembre-se que os bebês aprendem como é a vida pela forma como são tratados. A punição tem vários efeitos nocivos óbvios:

(A) O bebê vai ter menos confiança no amor e no seu cuidador, como o cuidador não é alguém que ele se sinta seguro para poder relaxar;

(B) O bebê vai ter menos confiança em si mesmo – os cuidadores estão lhe ensinando que seus pedidos não são importantes, são até mesmo indesejados;

(C) Se cuidadores punem o bebê por querer explorar, podem estar minando sua motivação para a aprendizagem (o que afetará seu desempenho escolar mais tarde);

(D) O bebê vai aprender que é melhor reprimir seus interesses para o cuidador, influenciando a comunicação com o cuidador;

(E) Um estudo recente de gravações de áudio de famílias mostrou que além dos pais serem muito impacientes, o mau comportamento aumentou após o espancamento;

(F) Fisiologicamente, a punição irá ativar a resposta ao estresse, o que não é aconselhável no início da vida, quando os limites e parâmetros do seu funcionamento estão sendo definidos. Esse estresse pode comprometer o bem-estar, o crescimento intelectual e tornar as relações sociais mais difíceis.

Se você deseja otimizar o cérebro, a saúde e o bem-estar do seu bebê a longo prazo não faça essas cinco coisas.

“Mas eu sou uma mãe frustrada e cansada”

Existe um ditado que diz: “É preciso uma aldeia para educar uma criança”. Sim, é preciso mais do que uma pessoa (geralmente a mãe) ou mesmo duas pessoas (geralmente a mãe e o pai) para atender às necessidades de um bebê. Então, se você for um pai ou uma mãe cansado e frustrado, obtenha ajuda com o cuidado. Aqui estão apenas alguns exemplos da minha experiência mas, por favor, adicione sugestões:

(A) Organize encontros com outras famílias, de intercâmbio, de babysitting, compartilhem a refeição e a limpeza.

(B) Reduza as expectativas dos seus objetivos pessoais. Lembro-me de ouvir uma mãe dizer, depois de vários meses de luta, que ela aprendeu a se render às necessidades do bebê. Cuidar das necessidades do bebê é um investimento que você não vai se arrepender.

(C) A paternidade não se destina a ser um ofício solitário. Os pais devem estruturar suas vidas em torno de sistemas de apoio. E ambos os pais devem ajudar sempre que possível.

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