A ansiedade em mim

Sou mais uma pessoa, dentre as milhões mundo afora, que sofre de ansiedade. Sempre sofri. Mas não posso afirmar esta frase utilizando o verbo “sofrer”.


Segundo o dicionário tradicional, ansiedade significa: “comoção aflitiva do espírito que receia que uma coisa aconteça ou não”. Ou ainda: “sofrimento de quem espera o que é certo vir; impaciência”.
Se consultarmos um livro de psicologia ou psiquiatria encontraremos algo mais profundo e específico como: “ansiedade é um estado psíquico de apreensão ou medo devido à antecipação de uma situação desagradável ou mesmo perigosa, acompanhado de sintomas somáticos de tensão. O foco de perigo antecipado pode ser interno ou externo”.
A maioria das pessoas em toda parte do mundo parece sofrer de ansiedade. É algo tão comum, que ninguém enxerga mais este sentimento como uma perturbação. Dentre tantos níveis de tal distúrbio, nos reconhecemos um nos outros, quando o mesmo se mostra ansioso, seja lá pelo que for.





Já teve época em que compensei minha ansiedade no consumo do açúcar. Depois de um tempo, a satisfação de minha carência afetiva se tornou o alvo de meu infortúnio. Como se relacionamentos, de alguma forma, pudessem resolver o turbilhão de sentimentos desordenados que tantas vezes carregamos em nós mesmos.
Hoje a ansiedade me causa insônia. Me faz sonhar acordada com um dormir desnecessário. Me pego pensando no que ainda não fiz. Os livros e as histórias que ainda não escrevi. As festas em que ainda não fui e os amores que ainda não tive. As viagens que estão no futuro e a proximidade tão desejada por quem amo. Às vezes até penso no sucesso que ainda não veio, na casa que não tenho ou coisas do tipo. Mas a materialidade não me tira o sono de verdade.
A minha ansiedade parece ser de alma, de um espírito que precisa viver mais do que simples vinte e quatro horas. De um inconsciente que deseja acordar a gritos um consciente surdo e quase mudo. Meu anseio vem de todo amor preso ainda em mim, pela falta dos que sentiriam a profundidade do que sinto. Minha ânsia de viver é grande sim, mas não é do medo do dia seguinte, nem de nenhum lamento do passado. Minha ansiedade vem do querer um agora mais intenso, mais brilhante e cheio de risos.


Meus anseios me tiram o sono, me fazem fechar os olhos e ouvir as gargalhadas que moram em mim. Mesmo com toda a dor que eu conheço, existo para viver o sublime. Ao menos pra mim foi o que me permiti.
Minha ansiedade é ânsia de vida. Vontade de viver mais, não em anos, mas em intensidade e significação. Quanto tempo passamos, sem sentir aquele segundo, que finalmente faz a vida toda ter um significado?
Meu frio no estômago é ânsia de consciência, de sentir os significados da vida. E só às vezes, raramente, me permitir um dia sem sentido, de monotonia e ordinário como a maioria dos dias são.
Ansiedade, dependendo de sua intensidade, pode ser considerada doença, tem sintomas, diagnóstico e tratamento. Eu não sou médica e nem psicóloga, mas acredito que minha ansiedade é uma grande e constante rebelião. De um espírito livre, pronto para mergulhar, numa vida cheia de amor e realizações, com pessoas e amores de todo tipo.
Minha ansiedade é de vida.
E o meu remédio é vida também!

About the Author Carolina Vilanova

Carolina Vila Nova é brasileira. Tem cidadania alemã, 40 anos. Escritora e Roteirista. É autora dos seguintes livros: “Minha vida na Alemanha” (Autobiografia), “A dor de Joana” (Romance), “Carolina nua” (Crônicas), “Carolina nua outra vez” (Crônicas), “Vamos vida, me surpreenda!” (Crônicas), “As várias mortes de Amanda” (Romance), “O dia em que os gatos andaram de avião” (Infantil), "O Milagre da Vida" (Crônicas) e "O beijo que dei em meu pai" (Crônicas). Disponíveis na Amazon.com e Amazon.com.br Mais matérias em: www.carolinavilanova.com

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