Mensagem não visualizada: a angústia do comportamento aprendido

A evolução é mesmo um fator intrigante.
Com a comunicação facilitada pela internet, estamos cada vez mais próximos e em maior contato verbal com o outro. Estamos fisicamente mais acessíveis e a espera para se comunicar é menor, o que facilita e pode até mesmo agilizar alguns processos. A espera das cartas e os intervalos de dias na expectativa em ver a pessoa querida, foram substituídas por mensagens instantâneas que acontecem a qualquer hora do dia tornando as pessoas presentes umas nas vidas das outras em qualquer momento, compartilhando emoções.


Mesmo com todas as mudanças na comunicação, há um fator imutável, seja nos flertes dos anos 30 ou nos do Tinder: esperamos o tempo inteiro pela aprovação do outro.
Apesar de toda essa proximidade e facilidade relacional gerada pela internet, existe um lado obscuro que está diretamente ligado a nossa necessidade de sermos aprovados: os meios de se detectar se somos aceitos ultrapassaram a linguagem corporal, um “eu gosto de você” ou uma ação física, sendo substituídos em muitos casos por sinais de confirmação de leitura de uma mensagem.
A necessidade de controle que temos sobre a vida do outro tomou uma proporção que foge da percepção da maioria: a tal confirmação de leitura tem se tornado na vida de muitos a maneira de medir os sentimentos do outro.
Mais do que isso, a partir de agora você mede a sua importância na vida do outro a partir da velocidade que sua mensagem é respondida. E se a última visualização aconteceu há poucos minutos mas sua mensagem permanece sem resposta, temos um problema. Mas, se a última entrada aconteceu e mesmo assim sua mensagem não foi visualizada, bom… Temos aí um bom motivo para rompimento!
Como é que foi construído todo esse paradigma em torno dos facilitadores de contato?
Estamos cada dia mais controladores. Procuramos o tempo inteiro controlar nosso mundo exterior e as pessoas que nos cercam por um motivo: controlar a nós mesmos é muitas vezes uma tarefa árdua; já que estamos em nós mesmos fora de nosso controle, nossa estrutura psíquica desvia a atividade do controle para algo mais tátil: os sentimentos do outro. É claro que efetivamente não controlamos os sentimentos e atitudes de ninguém, mas temos como aliado nosso mundo imaginário, que imagina, presume e conclui coisas baseado em dados inventados por nós mesmos, nos colocando no conforto de acreditarmos no que quisermos.


O que era pra ser o facilitador da comunicação, colidindo com nossas questões comportamentais, acaba então por se tornar o dificultador, pois a importância que se dá aos sinais de uso dos aplicativos acabam por sufocar o conteúdo das mensagens trocadas. Um comportamento aprendido, que de tanto ser repetido está sendo cada vez mais incutido no cotidiano das pessoas, tornando-se causa e não efeito (ex.: os aplicativos deveriam ser efeito de uma relação de comunicação, e não causa de um embaraço).
Dias estressantes, cobranças de todos os lados, as relações deveriam ser o lugar onde encontramos reconforto. Permitir que comportamentos aprendidos (que se quer notamos serem danosos) é uma falha facilmente corrigível. Retomar a forma do diálogo, nos apropriarmos de nós mesmos, dizer o que precisa ser dito e desobrigar o outro de você. Desobrigá-lo de passar o dia conectado a você mesmo que a distância, desobriga-lo de achar normal ter sua privacidade invadida e sua individualidade violada por um padrão de comportamento aprendido, desobrigá-lo de demonstrar um afeto imposto mas principalmente, desobriga-lo de atender as suas expectativas (pois elas são suas).
É possível viver a naturalidade das coisas e desejar um “Bom dia” sem que seja isso um termômetro relacional, mas apenas um desejo sincero e incondicional de que o outro esteja bem. Que o fundamento das relações sejam mais baseados na produtividade da presença do outro em nossa vida e não pela angústia de sermos aceitos (ou não) em todo momento por ele.

About the Author Thais Barrinha

Sou Psicóloga, encantada por todas (ou quase todas rs) as vertentes, observadora nata do comportamento humano e obcecada por entender os fatos para ajudar pessoas.

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