Passamos por muitas situações difíceis na nossa vida. Algumas mudam, outras não, mas sempre precisamos descobrir a melhor forma de lidar com elas. Essa é a essência da terapia de aceitação e compromisso. Uma abordagem do funcionamento humano baseada nos processos de aceitação em lidar com a vida e como ela se apresenta guiada por valores pessoais.
A ACT se inclui no rol das Terapias Cognitivas e Comportamentais e encara a psicopatologia como originada de uma inflexibilidade psicológica. Pode-se dizer que os objetivos ou processos de aceitação e compromisso visam auxiliar as pessoas a desenvolver sua flexibilidade psicológica. A intervenção do terapeuta busca o aprimoramento dessa flexibilidade, auxiliando o paciente a manter o contato com o momento presente, acolhendo os fatos ou mudando o seu comportamento em função dos valores escolhidos para sua vida.
A evitação ou esquiva é um dos conceitos centrais da ACT, pois compreende que se uma pessoa sofre por ter que enfrentar uma situação inevitável, ela pode se esquivar da própria ansiedade que ocorre nessa situação e não somente da situação. É uma tentativa de reduzir os pensamentos ou emoções indesejadas, mas que é a princípio disfuncional. Isso supõe que o ser humano tende a interagir com o mundo respondendo aos seus pensamentos como se fossem o próprio evento.
A aceitação compreende o processo inverso à evitação. Ela envolve disponibilidade em lidar com os pensamentos, emoções e reações corporais da forma como elas se apresentam. Trata-se de uma ação ativa e consciente de vivenciar todo e qualquer evento psicológico, sem julgamentos ou tentativas de controle do que não é possível ser alterado, nem na história passada do indivíduo, nem nos fatos do presente ou futuro. A ação seria comprometer-se com aquilo que se pode conquistar, permanecendo em contato com o presente, alterando ou mantendo a situação quando esta for importante, para alcançar os valores pessoais. Os valores são eventos internos escolhidos que norteiam as escolhas da vida diária. Trata-se daquilo que faz parte da identidade de uma pessoa e que para ela é o mais caro em sua vivência.
A meta final da ACT é a determinação do comportamento em função dos valores enquanto que o compromisso indica o caminho a percorrer. Por exemplo: um ex-marido precisa estar presente no aniversário do filho junto com o atual companheiro da esposa. Inúmeros sentimentos e pensamentos desagradáveis lhe ocorrem. Apesar do desejo de se poupar do mal estar e grande desconforto do encontro, se compromete a estar presente num momento importante da vida de seu filho. O valor que o direciona seria o de ser um pai presente. Para tal terá que inevitavelmente experienciar essas sensações em inúmeros contextos. Portanto se compromete a lidar com isso o melhor que puder a fim de ser coerente com o valor escolhido.
A aceitação não implica em concordar ou achar bom e sim, aprender a compreender a natureza das coisas sem sofrimentos desnecessários ou em intensidade supervalorizada. A ação comprometida é um comportamento que permite viver a responsabilidade pelos próprios atos através de metas concretas, acolhendo aquilo que está fora do nosso controle, seja no mundo externo ou interno.
Especialista em Psicologia Clínica e Terapia Cognitivo Comportamental. Se interessa profundamente pelo ser humano e adora a vida como ela é, apesar dos altos e baixos. Curiosa gosta de aprender coisas novas e de admirar o que já sabe. Não se importa de ser uma metamorfose ambulante se for para sair do casulo e voar.