Reflexões sobre a exclusão

A atual crise dos refugiados na Europa mostra um dos piores pesadelos humanos: ser ou sentir-se exilado, precisar fugir por não ser aceito, ser rejeitado. A rejeição é complicada para os seres humanos porque somos seres gregários, nascemos programados para nos sincronizar, harmonizar com outros seres humanos e viver em bandos.





A perspectiva de rejeição não é moderna, organiza-se em tempos antigos nos quais o exílio era quase como uma sentença de morte. Ser abandonado pelo grupo é algo terrível e, em tribos indígenas, por exemplo, a exclusão do grupo é um evento de muito estresse para todos os envolvidos.

Porém, mesmo sendo algo tão terrível, ainda assim excluímos. Comportamentos, crenças ou a simples cor da pele são motivos que já levaram os homens à excluir, perseguir e até mesmo matar pessoas. Assim o medo de ser vítima disso é muito forte. A exclusão socialmente falando serve como uma forma de “limpar” o território daquilo que se percebe como “impuro” ou que se tem medo. Obviamente cada cultura tem uma concepção específica sobre o tema.

Nos dias de hoje Zygmunt Bauman nos chama a atenção de que o fato da exclusão está naqueles que não se tornam consumidores de sucesso. Numa sociedade de consumo na qual o indivíduo é reconhecido e valorizado por aquilo que consome – e, muitas vezes torna-se, ele próprio, um objeto de consumo – a “limpeza” a “impureza” recai sobre aqueles seres que não desempenham bem esta tarefa.

Além disso, também está em pauta a questão de que para termos estruturada uma sociedade de consumo, acabamos por tornar o descarte uma realidade social. O descarte humano está assumindo proporções cada vez mais alarmantes. Assim passamos da simples rejeição – que de “simples” não tem nada – para o descarte cruel de algo que, simplesmente, “não serve” (o que seria tudo bem falando em torradeiras, mas não em seres humanos).





Então a rejeição torna-se um problema do indivíduo e uma prática social ao mesmo tempo. Ninguém deseja ser descartado ao mesmo tempo que colabora para uma sociedade que torna o descarte de humanos algo “comum”. Assim, um comportamento que já era temido em nossa evolução torna-se uma prática mais comum e cruel, momento óbvio para que o medo da rejeição aumente exponencialmente e, com ele os radicalismos tanto daqueles que excluem, quanto dos que são excluídos (nota: quando emprego o termo “radicalismo” não estou fazendo um julgamento moral, mas sim fazendo referência ao emprego de medidas cada vez mais extremas).

A exclusão dói e as dores daqueles que são excluídos envolvem a perda do local onde vivem, o medo constante de perseguição, perdas que muitas vezes ocorrem e envolvem laços familiares rompidos – por morte ou por desaparecimento – além da necessidade de criar um novo lar e aprender a viver numa nova sociedade que não se escolheu e quem nem sempre acolhe o excluído.
Psicólogos clíncos tem a tendência a acreditar no trabalho “micro”, ou seja, trabalhar com pessoas. Temos uma crença de que trabalhando com uma pessoa de cada vez, cada uma delas pode contaminar outras com a sua evolução pessoal e, assim criarmos “massa crítica” para termos mudanças sociais mais profundas.

Em relação ao tema deste artigo, cada vez mais tenho visto as pessoas excluírem umas às outras com base em critérios cada vez mais consumistas, por exemplo: a música que ouvem ou a roupa que vestem ou até mesmo a opinião que possuem sobre determinado estilo de arte ou artista.

Gosto de trabalhar com critérios, eles revelam muito sobre as pessoas e o que as movem. Em geral, o próprio medo de não ser aceito gera o comportamento da exclusão. Ou seja, o medo de não ter o meu estilo musical aprovado faz com que eu exclua quem gosta de outros estilos musicais.

Talvez esteja na hora de repensarmos o valor que damos às coisas em detrimento das pessoas. Cada vez mais nossa sociedade tem se tornado egocêntrica e intolerante em detrimento deste tipo de raciocínio: damos mais valor ao que a pessoa representa do que à pessoa em si. Toda esta intolerância que vemos nas redes sociais apenas aumenta o medo de sermos rejeitados o que aumenta a resposta de excluírmos o que é diferente de nós e é assim que contribuímos para os horrores que nós mesmos tememos.

Aprenda com o diferente. Busque um valor no humano que pensa diferente de você. Foque mais na empatia do que na crítica estética. Descubra soluções em conjunto. É óbvio que existem limites para a coexistência das diferenças, porém, talvez possamos criar limites muito mais amplos para respeitarmos o humano por detrás da diferença. Lembre-se, nisso, você é igual à todos “eles”.

About the Author Akim Rohula Neto

Akim Rohula Neto é natural de Curitiba onde nasceu e se criou. Descendente de russos e italianos desde cedo percebeu que as diferenças emocionais e na percepção de mundo podem trazer problemas e ser fonte de grande competências e conquistas. Realiza sua graduação em Psicologia na PUC-PR (1999-2003), no mesmo ano termina uma especialização em Psicologia Corporal no Instituto Reichiano (2000-2003) e em PNL (Programação Neurolingüística) com Leonardo Bueno (1999-2003). Mais tarde, sentindo a necessidade de uma compreensão maior sobre os fenômenos familiares busca no INTERCEF (2008-2010) a formação em Psicologia Sistêmica. Desde a graduação em 2004 trabalha com atendimento em psicoterapia para adolescentes e adultos e a partir de 2008 trabalha com casais e famílias. Além disso ministra palestras e workshops que visam o desenvolvimento de competências para desenvolvimento do auto domínio e da inteligência emocional.

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