Tristeza não é doença

 

Como posso me aceitar estando triste Akim?

Esta foi a pergunta que me fez escrever este post. A minha resposta inicial à este cliente foi “por que não pode?”. Ele ficou perplexo com a pergunta embora não conseguisse responder. Balançou a cabeça e olhou para baixo e continuou sem resposta. Então perguntei-lhe: “porque você não dá espaço à tristeza aí dentro?”, ele me disse algo óbvio: “porque dói”. Concordei com ele, dói, porém faz parte da vida não faz?





Esta última pergunta levantou uma boa discussão sobre as expectativas que ele tinha à respeito dele e da vida em si. A tristeza assim como várias emoções tida como “negativas” tem sido cada vez mais um atestado de que algo está errado com a vida da pessoa. Porém, o que há de errado em sentir uma emoção “negativa” como a tristeza, arrependimento, culpa ou raiva?

Olhando do ponto de vista psicológico nada. Uma emoção em si não é sintoma de nenhuma doença ou distúrbio. Na verdade o que mais ocupa os psicólogos é a maneira pela qual a pessoa representa a emoção dentro dela e como reage à emoção. Nestes dois pontos é que se pode ter problemas na maior parte dos casos. Pessoas “descontroladas”, por exemplo, em geral tem problemas em representar e lidar com a raiva. Representam que sentir isso é igual à ter que reagir e que a forma de reagir é, necessariamente, brigando ou explodindo.

A tristeza em geral é tida como depressão. As pessoas têm dito “estou deprimido” e não “estou triste”. Depressão é uma doença, tristeza não. Quando represento a tristeza como uma doença em mim, é óbvio que vou querer “me curar”. Porém, como tristeza não é doença, esta representação é errada e leva à comportamentos inadequados frente à emoção.





O primeiro deles é querer “livrar-se” da emoção. Fugir da emoção com compras, amigos, viagens ou drogas são as medidas que mais vejo em consultório. Fugir da tristeza não ajuda porque esta emoção traz informações úteis e que você precisa ouvir para compreender o que fazer com ela de fato.

A pergunta mais interessante é: o que perdi ou sinto que estou perdendo nesse momento? Uma variante é: o que estou ou sinto que estou deixando de ganhar? A tristeza tem a ver com perdas – reais ou imaginadas – assim quando sentimos essa emoção temos que compreender que algo está sendo perdido. Algumas vezes é muito óbvio como no caso da morte de alguém ou perda de um emprego. Em outras é mais sutil, como sentir que perdi a liberdade que tinha antes de começar a trabalhar todos os dias. Outra forma sutil: imaginei que minha vida seria de uma forma, ao começar meus planos problemas naturais deles surgiram, mas como não planejei estes problemas sinto que estou perdendo minha vida.

O segundo comportamento que nos ajuda a lidar com a tristeza é se permitir chorar. Porque isso é importante? O choro alivia a tensão e ajuda a literalmente, “deixar ir”. É muito interessante quantas pessoas, depois de chorarem tem percepções ou resolvem situações. O choro é uma resposta orgânica ao efeito que a tristeza causa no corpo. Ele ajuda metabolizar a emoção da perda e, por este motivo, ajuda a processar as ideias.





O terceiro comportamento é: não tenha vergonha de estar triste. Tristeza não é algo errado. Em geral as pessoas perguntam: “Tá triste? Mas o que está errado?”. Tristeza não tem a ver com certo ou errado, tem a ver com perdas. Então a ideia de que você tem que dar explicações sobre o que “está errado com você” – que é o que envergonha muitas pessoas – é inadequada. Não são explicações sobre o porque você está errado e sim constatações daquilo que você sente estar perdendo. Nada de errado com isso não?

É importante, também, levar a pergunta à sério. Descobrir aquilo que sinto que estou perdendo é a fonte que realmente “cura” a tristeza. Quando descubro aquilo que estou perdendo posso, então, buscar novas formas de resgatar ou, então, me enlutar e disponibilizar, mais tarde, minha energia para outros fins.

Estes “passos” fazem com que as pessoas aprendam a lidar com a tristeza. Aceitar esta emoção é tão importante quanto aceitar as emoções boas. Dar um lugar para todas as nossas emoções é fundamental para termos uma boa saúde psíquica. Espero que este artigo ajude você a dar boas vindas à tristeza ao invés de fugir dela.

Abraço

About the Author Akim Rohula Neto

Akim Rohula Neto é natural de Curitiba onde nasceu e se criou. Descendente de russos e italianos desde cedo percebeu que as diferenças emocionais e na percepção de mundo podem trazer problemas e ser fonte de grande competências e conquistas. Realiza sua graduação em Psicologia na PUC-PR (1999-2003), no mesmo ano termina uma especialização em Psicologia Corporal no Instituto Reichiano (2000-2003) e em PNL (Programação Neurolingüística) com Leonardo Bueno (1999-2003). Mais tarde, sentindo a necessidade de uma compreensão maior sobre os fenômenos familiares busca no INTERCEF (2008-2010) a formação em Psicologia Sistêmica. Desde a graduação em 2004 trabalha com atendimento em psicoterapia para adolescentes e adultos e a partir de 2008 trabalha com casais e famílias. Além disso ministra palestras e workshops que visam o desenvolvimento de competências para desenvolvimento do auto domínio e da inteligência emocional.

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