Emoções de fundo

Você já ouviu falar em “emoção de fundo”? Talvez não, mas, com certeza, já sentiu.

Segundo o neurocientista António R. Damásio “certas condições de estado interno engendradas por processos físicos contínuos ou por interações do organismo com o meio, ou ainda por ambas as coisas, causam reações que constituem emoções de fundo”.





Quando dizemos que estamos tensos, cansados, fadigados, com muita energia ou vitalidade estamos falando de emoções fundo. Muitas vezes estas emoções são difíceis de serem percebidas pelo fato de constituírem um estado mais contínuo na pessoa e estarem mais relacionadas com o mundo interno do que com o mundo externo. Ou seja, emoções de fundo têm como gatilhos os próprios estados internos do organismo, assim, como este cenário é mais contínuo, também a sua presença se torna mais contínua.

A emoção de fundo está associada com os níveis mais profundos da consciência. Esses níveis estão profundamente arraigados aos estados internos do organismo, eles se referem à qualidade da homeostase e dos tecidos dos órgãos. Assim, podemos falar que este tipo de emoção traduz-se como a mais próxima de uma “identidade emocional”. A mudança destes estados sobrevive, segundo Damásio, até mesmo à doenças neurológicas.





Quem já teve parentes acometidos pelo mal de Alzheimer, por exemplo, dizem que as pessoas, mesmo com a doença, mantém o estado de espírito, ou seja, se são calmas, tendem a ficar calmas. As mudanças no estado de humor, em geral, associam-se ao agravamento da doença, momento em que os núcleos do cérebro responsáveis pela manutenção dos estados internos começam a ser profundamente afetados.

As emoções de fundo são, portanto, um excelente objeto de estudo – embora tenham sido pouco estudados – sobre a relação entre mente e corpo. Mais precisamente falando, podemos dizer que, uma vez que estas emoções falam sobre o estado do corpo, elas nos revelam quem a pessoa é em termos biológicos. A dificuldade no trabalho com estas emoções é que determinar o que as ativa exige um alto nível de conhecimento interno nem sempre possuído pelas pessoas.

No entanto, embora difíceis de serem estudadas, essas emoções também são extremamente importantes por funcionarem como um “pano de fundo” no qual outras emoções ocorrem. Não é difícil de compreender: um dia em que você está fadigado por ter tido uma péssima note de sono é muito diferente do que um dia em que você teve uma ótima noite de sono e acordou com “bom humor”. As emoções de fundo vão um pouco além, é como se elas falassem não apenas da noite mal dormida, mas como o seu corpo está depois de uma noite mal dormida.

Pessoas depressivas, por exemplo, relatam sensações de fadiga e cansaço, além de dores durante muito tempo. Compreender que estas sensações perceptíveis no corpo, na fala, na qualidade da “energia” da pessoa não são apenas fenômenos psíquicos, mas também biológicos é fundamental para, por exemplo, realizar uma terapia. As emoções de fundo nos chamam, de uma maneira muito forte, à considerar o trabalho com o corpo “propriamente dito”, no sentido de influenciar a sua dinâmica interna e estes estados afetivos que estão tão arraigados no indivíduo.

O trabalho com a identidade vai além do exercício psíquico pois a própria personalidade repousa sobre um fenômeno biológico que precisa ser levado em conta. Há mais na psique do que ela própria, seu substrato corporal precisa ser integrado e o estudo das emoções de fundo é uma perspectiva interessante para este estudo.

About the Author Akim Rohula Neto

Akim Rohula Neto é natural de Curitiba onde nasceu e se criou. Descendente de russos e italianos desde cedo percebeu que as diferenças emocionais e na percepção de mundo podem trazer problemas e ser fonte de grande competências e conquistas. Realiza sua graduação em Psicologia na PUC-PR (1999-2003), no mesmo ano termina uma especialização em Psicologia Corporal no Instituto Reichiano (2000-2003) e em PNL (Programação Neurolingüística) com Leonardo Bueno (1999-2003). Mais tarde, sentindo a necessidade de uma compreensão maior sobre os fenômenos familiares busca no INTERCEF (2008-2010) a formação em Psicologia Sistêmica. Desde a graduação em 2004 trabalha com atendimento em psicoterapia para adolescentes e adultos e a partir de 2008 trabalha com casais e famílias. Além disso ministra palestras e workshops que visam o desenvolvimento de competências para desenvolvimento do auto domínio e da inteligência emocional.

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