Se você quiser ajudar alguém dizendo isso, nem tente!

Se alguém te procurar para desabafar e você tenta ajudar dizendo: “Eu já passei por isso…”? Por favor, nem tente!

Quando as pessoas enfrentam algum problema, é bastante comum que procurem aconselhamento ou apenas que busquem em um conhecido ou amigo, uma possibilidade de clarear a mente, de desabafar, de expressar e externar suas angústias e suas dúvidas. Nessas condições, o ouvido amigo se torna uma possibilidade de olhar a causa do sofrimento sob uma nova perspectiva, sob outro ponto de vista.





Contudo, nessas circunstâncias, aquele sujeito que poderia ouvir e significar uma alternativa ao silêncio martirizador, acaba por desfocar a conversa e por colocar-se no centro do discurso, dizendo já ter vivido a mesma situação. Além de afirmar-se com dolorosa experiência, o pretenso e péssimo ouvinte ainda enriquece sua descrição com detalhes que fazem a pessoa que o procurou perguntar-se se realmente há uma competição de “quem sofre mais”…
Ter Empatia significa ter a capacidade ou a habilidade de colocar-se no lugar do outro. Perguntar-se: “e se fosse comigo?” “E se eu estivesse vivendo isso?” No entanto, não significa dizer ao outro que você é exemplo de superação. Não significa mostrar ao outro que suas agruras e suas tristezas e suas misérias e sua história de sobrevivente é infinitamente mais nobre do que a dele. Empatizar não significa igualar-se ao outro ou mostrar ao outro que seus problemas são insignificantes diante das dores do mundo. Também não significa dizer que o sofrimento é sentido por todos da mesma maneira.





A menos que você seja parte de um grupo de apoio, em que se compartilham experiências e há, de fato, o momento propício para ouvir e ser ouvido, quando alguém for contar suas mazelas para você, não a sufoque com seu sofrimento, não entre em uma competição para provar que sua vida é mais miserável do que a de quem o procurou.
Há pelo menos três razões óbvias que tiram o embasamento dessa tentativa frustrante de ajudar no enfrentamento da crise individual do indivíduo com a frase: “Eu já vivi isso, blá, blá, blá…”

1. O contexto do problema não é o mesmo.

Apesar de parecer a mesma situação, os acontecimentos nunca são os mesmos, já que ocorrem em diferentes épocas, lugares, e envolvem diferentes pessoas. Portanto, dizer que já enfrentou uma situação igual é, no mínimo, uma inverdade e uma irresponsabilidade. Por mais repleta de boa vontade e de desejo de ajudar, a generalização não contribui para que a outra pessoa se sinta menos triste ou preocupada com os problemas que enfrenta.

2. O problema não é o mesmo. (embora possa ser parecido).





O problema não é o mesmo porque não são as mesmas pessoas envolvidas e as consequências não serão as mesmas vividas pelo sujeito. Do mesmo modo, quando há seres humanos envolvidos, por mais similaridade que exista entre as situações vivenciadas cotidianamente, o modo como se percebem tais situações, faz toda a diferença.

3. As pessoas não sentem da mesma forma.

As pessoas não sentem da mesma forma nem pensam do mesmo modo. Assim, a perspectiva de uma pessoa com relação ao seu método de enfrentamento e superação não é igual a do outro e não se pode dizer (ainda que de maneira superficial) que há o jeito certo e o jeito errado de entender ou sentir uma situação problemática. Desta forma, os indivíduos que vivenciam suas crises só o fazem segundo seus próprios parâmetros, e isso é por demais subjetivo para que a pessoa que busca compartilhar suas tristezas e suas dúvidas, quaisquer que sejam, se veja obrigado a guardar sua preocupação por estar conversando, na verdade, com um “expert” em sua vida.

Desta forma, o que sugere-se quando alguém te procura para contar suas angústias, para “se abrir”, para “desabafar”? Mostre que você se importa, que você se interessa, ouça atentamente, sem interrupções, sem fazer da sua vida o foco da conversa, ouça sem recriminar e sem julgar. Depois opine, sugira caminhos, aponte direções, ou não faça na da disso: Apenas ouça, mas escute de verdade, sem cara de paisagem. Normalmente, quando alguém busca um amigo de confiança para compartilhar dores e tristezas, não busca alguém que em um passe de mágica resolva seus problemas. Busca companhia, porque é muito triste sofrer sozinho.

About the Author Júlia Pereira Damasceno de Moraes

Mulher, filha, mãe, esposa, professora, educadora, eterna aprendiz. Graduada em Letras pela Universidade do Planalto Catarinense. Especialista em Leitura e Produção de Texto. Leitora inveterada. Aspirante a escrevente. Amante do saber e do conhecimento. Preocupada com o rumo que os adolescentes e jovens estão tomando e com a falta de referencial de vida para muitos dos alunos com os quais convive 12 horas por dia. Os pais se preocupam com o mundo que vão deixar para os filhos, mas não estão se preocupando com os filhos que vão deixar para o mundo. Isso é grave!

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