Vir-à-ser e integridade

A integridade é um dos fatores mais importantes para o ser humano. Sua manutenção é fator fundamental para uma boa auto estima e para a realização de importantes desejos em nossas vidas. Porém, será que manter a integridade significa manter-se sempre o mesmo?





A integridade tem a ver com vários elementos: nossa identidade, crenças, comportamentos e até mesmo o ambiente em que vivemos. Muitas vezes manter a nossa integridade significa abrir mão de onde estamos e nos aventurar em outros lugares. Em outras significa mudar nossas atitudes afim de conseguirmos expressar melhor quem somos ou quem queremos vir à ser.

E é exatamente neste “vir à ser” que reside uma reflexão profunda e interessante. Que, muitas vezes, para manter a nossa integridade, precisamos romper com nossa integridade. O que é um sinal de integridade para o “eu que sou hoje” pode não ser íntegro para o “eu que quero ser”. Como lidar com este paradoxo?





Joseph Campbell nos fala sobre isso ao descrever a “jornada do herói”. Muitas vezes o herói é chamado para a aventura, ele escuta o chamado, mas o recusa, negligencia ou foge dele. O problema é que uma vez que o chamado é feito a aventura já começou, se o herói vai entrar nela voluntariamente ou não é uma escolha, mas a “escolha” de entrar ou não é apenas ilusória.

A parte do herói que não vai para a aventura é aquela que ainda está por demais identificada com o momento presente e com o passado. É a parte que não percebeu que o passado e o presente estão à serviço do futuro – por isso a aventura é inevitável – e que para viver isso é necessário aventurar-se. Assim, finge não ver as mudanças, pragueja contra elas, foge do seu próprio destino, mas como o próprio Campbell diz: se você não vai ao seu destino o mesmo o carrega.





As escolhas que estamos fazendo agora nos direcionam para um “eu” no futuro que não podemos saber, plenamente, quem é. Assim aquilo que consideramos certo hoje pode nos direcionar para uma situação em que este mesmo certo se torne algo errado ou inconveniente. Compreender que esta mudança faz parte das escolhas que fazemos é a maneira de lidar com o paradoxo.

É correto bater o bolo para misturar seus ingredientes, mas bater o bolo para sempre não vai torná-lo um bolo, ele precisará ir para o forno e “descansar” lá. Quando fazemos nossas escolhas estamos partindo para a aventura, e, nesse momento, é importante lembrar de um dito romano: “na guerra sempre deixe espaço para o infortúnio”. Em outras palavras é importante saber que quando fazemos nossas escolhas precisamos deixar uma abertura para aquilo que não sabemos e não pensamos, estar aberto para isso nos ajuda a lidar com as mudanças imprevistas que criamos para nós mesmos.

Isso é o que nos faz lidar melhor com os “dois eu” que habitam simultaneamente nosso corpo enquanto evoluímos. A alternativa é se rebelar contra isso, mas fatalmente isso apenas irá prejudicar ainda mais a sua relação com você mesmo. Aprender a abrir mão daquilo que não é mais útil também nos faz crescer da mesma maneira que defender aquilo que é útil. Como diz um dito zen: “existem muitas formas de se permanecer o mesmo”.

Abraço

About the Author Akim Rohula Neto

Akim Rohula Neto é natural de Curitiba onde nasceu e se criou. Descendente de russos e italianos desde cedo percebeu que as diferenças emocionais e na percepção de mundo podem trazer problemas e ser fonte de grande competências e conquistas. Realiza sua graduação em Psicologia na PUC-PR (1999-2003), no mesmo ano termina uma especialização em Psicologia Corporal no Instituto Reichiano (2000-2003) e em PNL (Programação Neurolingüística) com Leonardo Bueno (1999-2003). Mais tarde, sentindo a necessidade de uma compreensão maior sobre os fenômenos familiares busca no INTERCEF (2008-2010) a formação em Psicologia Sistêmica. Desde a graduação em 2004 trabalha com atendimento em psicoterapia para adolescentes e adultos e a partir de 2008 trabalha com casais e famílias. Além disso ministra palestras e workshops que visam o desenvolvimento de competências para desenvolvimento do auto domínio e da inteligência emocional.

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