Coaching e Psicologia

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A atuação do chamado – Coaching – continua em franca expansão no mercado atual. Ele já tem um posicionamento e reconhecimento em várias áreas (“tem coaching pra tudo”), mas não sem alguma controvércia, considerando que supostamente suas teorias se baseiam na Psicologia. Onde esses processos de coaching se sobrepõem a técnicas de diversas abordagens da Psicologia – citando aqui o exemplo, quem sabe até pretensioso, de artigos que comparam a Psicologia ao chamado Life Coaching, ou seja, nos faz pensar que o Coaching por si só é maior, mais abrangente no trato e estudo do comportamento e psiquismo humano do que a própria Psicologia enquanto ciência (se assim o for).





Existe uma mácula associada à Psicologia por quem trabalha com Coaching, onde a descreve como uma ciência “focada na doença, na prevenção e na promoção da saúde”. Colocando então o Coaching como sendo focado no desenvolvimento pessoal e em processos de liderança pessoal. Colocam a Psicologia como se valendo apenas do entendimento da história do indivíduo, centrada no que está pra trás enquanto o Coaching teria foco no futuro, na ação e na definição de metas e objetivos.

Entendemos que esta seja uma definição equivocada, talvez rasa, da Psicologia, ignorando não somente a filosofia, as diversas abordagens, paradigmas, escolas, enfim, além de uma infinidade de técnicas, das quais o próprio Coach se utiliza em seus processos, ignorando, talvez por ingenuidade, que as mesmas advém de abordagens como Psicodrama, Behaviorismo, TCC, Teorias do Desenvolvimento Humano, Psicologia Positiva, Terapia Sistêmica/Esquemas ou até mesmo Psicanálise.





É notório o aumento da popularidade do Coach, surgindo inclusive cursos de MBA a respeito. A formação em Coach (treinador/condutor) para que este passe a fazer Coaching (o processo de) com seus Coachees (clientes), existe em diversas instituições no Brasil, algumas credenciadas internacionalmente e outras não.

Os critérios de cada instituição variam muito para emissão do certificado. Em geral as mais criteriosas e/ou reconhecidas pela ICF (International Coaching Federation) aplicam preços na ordem de “algumas muitas vezes” maiores que outras menos reconhecidas ou não afiliadas a essa federação.

Hoje em dia, basta fazer uma pesquisa no Google para notar a explosão da oferta de serviços de Coaching no Brasil. E segundo José Augusto Figueiredo, presidente do ICF, há espaço para o crescimento deste mercado. “Durante um processo de coaching, a pessoa é provocada a refletir, mas deve encontrar as respostas sozinha”.

Apesar disso, Coaching pode ser considerado uma área do conhecimento relativamente nova e é natural que existam dúvidas e confusão a respeito de como funciona, sobretudo em comparação a Psicologia e Psicoterapias.





Elas são áreas que vão lançar mão de ferramentas para auxiliar pessoas a conquistar uma qualidade de vida melhor, com atendimentos dentro de uma periodicidade e onde as sessões tem tempo de duração similar. Mas também existem diferenças, que segundo a ICF, delimitam bem uma área da outra e demonstram as vantagens e benefícios que ambas possuem e que não são excludentes, mas complementares.

Uma visão rasa da Psicoterapia, muito usada na sua diferenciação ao Coaching, é considerar que ela tem como objetivo principal tratar e reestruturar. Ou seja, seu foco é “terapêutico”. Tratar transtornos, comportamentos e emoções que estão de alguma forma “desequilibrando” a vida do paciente e fortalecê-lo para que possa se sentir estruturado e seguro para assumir-se com suas qualidades e deficiências e, a partir dessa consciência, viver com autoconfiança, respeitando sua identidade. Por esse motivo, trabalha-se inicialmente com fatos ocorridos no passado e no presente. Mas sabemos que a Psicologia pode (e vai) além disso.

Superados possíveis transtornos e/ou padrões de comportamentos, passa-se para uma etapa seguinte de fortalecimento, planejamento e ação pautados muito mais no presente e no futuro. Essa segunda etapa é muito próxima do processo de Coaching, mas que não seria possível sem a vivência da primeira etapa, do tratar e reestruturar, que representou o preparo para a ação.

O Coaching tem como objetivo principal a obtenção de conquistas, de metas e de realizações. Durante o processo há reforço de habilidades, competências e autoestima, além de aumento de desempenho e desenvolvimento, seja profissionalmente ou em qualquer outra área, como relacionamentos, familiar ou pessoal. Tem foco, portanto, no presente e no futuro e não tem objetivo terapêutico, ou seja, de tratamento. Por ser mais focado e não trabalhar as “adjacências” terapêuticas, o processo do Coaching costuma ser mais rápido, muitas vezes com tempo já pré-estabelecido entre cliente e Coach.

Partindo das definições essenciais, temos o Coaching como sendo um processo estruturado, onde há uma parceria entre um profissional especializado (Coach) e o cliente (Coachee), para que esse atinja seus objetivos, desenvolva suas competências, viva seus valores e alcance o máximo de seu potencial.
“Coaching, ao invés de ensinar, ajuda o cliente a aprender.” (propaganda Coach)
Talvez, para aquelas pessoas que desconheçam as “facetas” da Psicologia, em outas palavras, não sejam acadêmicos ou mesmo estudiosos familiarizados com essa área, não fique tão clara uma sobreposição de conteúdo. Onde temos como uma das preocupações da Psicologia, na parte do desenvolvimento humano, ajuda-lo a melhor se compreender, compreender o mundo e porque não dizer “melhor se compreender no mundo”.
O Coach utiliza-se de “ferramentas”, e envolve um trabalho pragmático que ajuda a definir objetivos de forma clara para torná-los desafiadores e estimulantes para que o cliente então os alcance com a energia originária de seus valores mais profundos. (SBC – Sociedade Brasileira de Coaching)
Sim. Em certos casos, considerando o atendimento individual, não é possível passar por um processo de Coaching sem antes passar por uma psicoterapia. A psicoterapia pode tratar e reestruturar e num primeiro momento pode ser necessário fazer um “preparo de terreno” para que o Coaching aconteça. Isso porque alguns problemas emocionais como ansiedade, fobias, depressão podem interferir negativamente no processo, tendo de ser trabalhados previamente para só depois permitir que o processo de Coaching flua.
No ambiente educacional, assim como em todos os demais, percebemos que a Psicologia possui teorias que englobam o Coaching. Em outras palavras, o Coaching como um todo está, de alguma forma, contido na Psicologia, logo a Psicologia contém Coaching e não o oposto.
Essa é uma mera pesquisa acadêmica que pode contribuir para ampliar a visibilidade do assunto, trazendo a reflexão mínima de um primeiro contato com essa realidade. Deveria o Coaching ser encampado pela Psicologia? Será o Coaching uma ciência? Para que o Coaching pudesse ser considerado ciência, seus fundamentos não seriam os mesmos da Psicologia?! Até que ponto um processo de Coaching pode dar errado psiquicamente? Estudo das consequências no psiquismo, contrapondo Coaching e terapia? Como atua a PNL no Coaching?
Esses são questionamentos que emergiram durante o trabalho e que talvez possam abrir caminhos para futuras pesquisas e novos estudos sobre o assunto. Não há intenção de uma crítica ao Coaching em si, mas uma reflexão sobre seus fundamentos e conexões destes com a Psicologia, suas técnicas, abordagens e fundamentos.

About the Author Aless Oliveira

Alessander Pires Oliveira - Formação e vocação em Ciências da Computação, também apaixonado por psicanálise, tocar guitarra e design. Providenciando o Bacharelado em Psicologia ;-) "Não compartilho meus pensamentos por que penso que vou mudar a cabeça das pessoas que pensam diferente. Eu os compartilho para mostrar as pessoas que pensam igual a mim, que não estão sozinhas."

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