”FERNWEH”: O DESEJO DE VIAJAR PARA FUGIR DA VIDA COTIDIANA

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Fernweh é uma palavra alemã cujo significado não encontra correspondência em um vocábulo específico da língua portuguesa e que traduz um desejo de fugir, viajando por aí. Trata-se daquela vontade de sumir de tudo e de todos que muitas vezes nos acomete, quando nossa paciência se esgota, quando o tédio se instala, quando nada mais parece ter sentido à nossa volta, quando nosso mundo cai e não conseguimos visualizar alguma saída.

 

Os homens, desde sempre, encontram-se suscetíveis de se encontrarem desgostosos com o mundo, descontentes consigo mesmos, enredados em vidas com as quais não se identificam, limitados pelas obrigações que a vida impõe, perdidos em meio ao cotidiano robótico e frio de horas que se arrastam. O desejo de fuga, então, torna-se inevitável, o que direciona cada um de nós a determinada válvula de escape, seja ela benéfica, inofensiva, ou até mesmo perigosa.

Certas pessoas se voltam às artes, à música, outras escrevem, leem, assistem a filmes, algumas recorrem a drogas, ou seja, cada um se vira ao seu modo e cada um colhe as consequências pelo que escolheu. Ah, mas o desejo de sair por aí sem destino, mochila nas costas, mapa nas mãos e nada na cabeça pode ser tomado como algo bem natural e parte da vida de quase todos que conhecemos.

O ser humano é capaz de pensar, de forma ilimitada, de sentir o mundo sob variadas sensações, de projetar o futuro, fazer planos, sonhar o que quiser. Ao mesmo tempo em que a realidade tenta nos limitar, nossos pensamentos nos tornam cada vez mais inconformados com o que é estanque, com o que se repete sempre da mesma forma. Queremos mais, precisamos de algo maior, desejamos conhecer o que vai além dos nossos quintais. É algo que pulsa dentro de nós.

Na verdade, usar do escapismo com frequência, como se fosse uma necessidade constante ausentar-se do que se encontra ali em frente, pode ser um aviso de que é hora de mudar. Mudar de emprego, mudar de amigos, de ambientes, de roupas, de pensamentos, mudar de vida. Pode ser a nossa essência querendo desatar as amarras com que a sufocamos dentro de nós. Um pedido de socorro que somente nós mesmos somos capazes de ouvir.

Na verdade, nem sempre somos nós que provocamos os desagrados que pontuam nossa jornada, pois quem caminha conosco também pode ser a causa de alguns dissabores que enfrentamos, porém, sempre será necessário refletirmos sobre o que estamos fazendo de nossas vidas, a quem queremos agradar, o que de fato queremos alcançar e a que custo. Porque, caso o problema esteja tão somente dentro de nós, mesmo que estejamos em casa, mesmo na praia, na neve, em Paris, ele nos acompanhará.

Viajar é uma delícia, pois renova nossos olhares, nossos sentidos, nosso amanhecer, alargando nossos horizontes e oxigenando nossos pensamentos. Além disso, olhar as coisas a uma distância segura pode acabar nos trazendo, com mais segurança e verdade, de volta ao que já tínhamos. Mas, se o que incomoda estiver dentro de nós, somente o enfrentamento doloroso de nossa vida poderá nos levar às mudanças urgentes e necessárias. E sem gastar dinheiro.

About the Author Marcel Camargo

Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família.

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