Síndrome de Madame Bovary: O que é e quais são seus sintomas?

Síndrome de Madame Bovary: O que é e quais são seus sintomas? Ao longo de nossas vidas, cada um de nós desenvolve sua própria visão de mundo, com base nas experiências e aprendizagens que extraímos não apenas daquilo que vivemos, mas do que nosso meio social e cultural nos ensina.

 

Essa visão inclui, entre outros aspectos, como deve ser o nosso relacionamento com os outros, algo que nos leva a ter expectativas em relação às interações socioafetivas que mantemos.

 

No entanto, às vezes nossas expectativas não são realistas, e encontramos uma realidade que não gostamos e que pode gerar insatisfação. Embora em geral todos nós tenhamos algum desapontamento que superamos, algumas pessoas vivem em estado de permanente frustração, afetadas por expectativas excessivamente idealistas e românticas que, quando confrontadas com a realidade, não podem ser alcançadas.

É o que acontece na chamada síndrome de Madame Bovary ou Bovarismo, sobre a qual falaremos ao longo deste artigo.

A síndrome de Madame Bovary: do que estamos falando?

 

A síndrome de Madame Bovary ou bovarismo é um padrão mal-adaptativo de comportamento e cognição caracterizado pela existência de insatisfação persistente e crônica resultante da forte discrepância entre a realidade e as expectativas que o sujeito tem do mundo, especialmente no campo das relações afetivas. Embora os relacionamentos românticos sejam um elemento comum em seu tipo de pensamento, a característica definidora do transtorno é a insatisfação crônica e a busca de um ideal de felicidade.

 

Esta síndrome, um distúrbio de comportamento que com o tempo vem se tornando cada vez mais conhecido, pode gerar um alto nível de infelicidade e sofrimento psíquico para o sujeito, e é muito mais comum em mulheres do que em homens, embora haja uma tendência maior para um equilíbrio entre ambos os sexos. O nome da síndrome vem do romance Madame Bovary de Gustave Flaubert, em que a protagonista mantém expectativas excessivas para o amor (devido à idealização criada a partir de livros de romances) e busca encontrá-los no que considerava uma vida monótona e chata e um casamento sem amor, sem nunca conseguir satisfazê-los.

Quem sofre síndrome de Madame Bovary geralmente mantém uma visão idílica e utópica de amor e relacionamentos, uma visão que não resiste a0 seu contraste com a vida real e gera, de um lado, forte insatisfação e, do outro, uma rejeição da realidade, sendo incapaz de aceitar a grande divergência entre suas expectativas e o mundo. É comum que eles mantenham uma busca compulsiva pela felicidade e sua visão de uma vida e relacionamento perfeito. Eles geralmente procuram por sua alma gêmea ou parceiro ideal. Há também um medo extremo de não encontrá-lo, e até mesmo a negação dessa possibilidade.

Eles tendem a desenvolver uma personalidade melancólica e dependente, fazendo todos os esforços para garantir que seus relacionamentos sejam o mais próximo possível de seu ideal.

Consequências psicológicas e relacionais

 

A pessoa se sente constantemente insatisfeita e infeliz, e tende a negar aspectos do mundo que não correspondem aos seus ideais. É comum que os sintomas de ansiedade e depressão apareçam, com tendência à melancolia e distimia, e às vezes levam a comportamentos agressivos e autodestrutivos.

 

Relações sociais e afetivas são altamente insatisfatórias, marcadas pela possessividade, ciúme e recriminações. Tendem a se concentrar no outro (na forma altamente dependente) a ponto de abrir mão dos interesses próprios para não ser abandonado. Há um certo egocentrismo, valorizando a relação pela maneira como ela afeta apenas o próprio sujeito.

Principais sintomas desta desordem

Dentre os principais sintomas dessa desordem, destaca-se a presença da insatisfação permanente, bem como a manutenção de expectativas rígidas e irreais.

Geralmente, há uma visão tendenciosa do mundo, processando apenas as informações que sustentam sua visão do mundo, ignorando o resto e até mesmo recusando-se a reconhecê-lo. Além disso, emocionalmente, tende a haver uma sensação profunda de vazio devido à incapacidade de alcançar seus desejos, bem como uma supervalorização e uma reação emocional exagerada a conflitos e divergências. Muitas vezes há neuroticismo e dificuldades em tolerar a monotonia e a frustração, ao mesmo tempo em que mantém expectativas excessivas sobre como sua vida deveria ser.

A nível romântico, essas pessoas tendem a procurar compulsivamente por um amor ideal, gastando muito tempo nessa função de busca ou tentando manter alguém ao seu lado. Há uma grande dependência emocional e muitas vezes o assunto se concentra exclusivamente em seu parceiro, com quem se busca uma identificação. A identificação com o outro atinge o nível em que os gostos e modos de ver o mundo do cônjuge são copiados e assumidos como próprios.

No entanto, quando isso não atender às suas expectativas, o sujeito pode ir à procura de outras pessoas, mesmo tendo um parceiro, por isso a infidelidade não é incomum nesses casos. Amores impossíveis e complicados tendem a atraí-los, dado o desafio que representam.

Causas possíveis

A síndrome de Madame Bovary não é um distúrbio reconhecido e suas causas não são totalmente conhecidas. No entanto, a própria definição do transtorno estabelece que a origem dessa insatisfação crônica está na falta de adequação entre as expectativas e a realidade da pessoa.

Essas expectativas podem ser devidas a uma visão excessivamente utópica dos relacionamentos amorosos, muitas vezes exacerbada pela literatura, filmes ou obras teatrais. Também foi observado que existe uma tendência para as pessoas com essa síndrome terem sofrido negligência, privação de afeto ou abuso na infância, o que pode ter levado a idealizar um parceiro.

Tratamento?

A síndrome de Madame Bovary é um distúrbio comportamental cujo tratamento envolve trabalhar as crenças mais profundas sobre o valor dos relacionamentos, a modificação de vieses cognitivos e crenças irreais e o trabalho sobre a autoestima. É necessário refletir e analisar o modo de pensar, sentir e relacionar tanto consigo mesmo quanto com os outros, bem como o modo como isso afetou a vida do sujeito e dos que o cercam.

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