A maconha pode ser usada terapeuticamente no tratamento de doenças mentais?

Existe hoje evidência científica de que a maconha pode ajudar no tratamento de diversas enfermidades, como câncer, AIDS, doenças convulsivas, esclerose múltipla, Alzheimer e Parkinson. No entanto, o que nos interessa neste artigo são os benefícios da canábis comprovados por pesquisas científicas no tratamento de doenças mentais.

Por se tratar de um tema bastante controverso, dado o argumento muito difundido de que a maconha poderia ser o gatilho para a esquizofrenia em adolescentes (visto que o alto teor de THC das ervas vendidas no mercado negro comprovadamente têm efeitos psicóticos), vamos nos ater em dados de pesquisas.

Maconha e distúrbios psiquiátricos

Os primeiros experimentos envolvendo a aplicação de maconha no tratamento de doenças mentais na medicina ocidental foram executados pelo francês Dr. Jaques-Joseph Moreau. Ao fornecer haxixe à pacientes com distúrbios mentais do L´Hôspital de Bicêtre, em Paris, Moreau notou que o medicamento os acalmava, ajudava a dormir, melhorava as dores de cabeça e apetite.

Os efeitos dos canabinoides no cérebro humano estão entre os tópicos mais polêmicos envolvendo a maconha. Muitos psiquiatras, sobretudo no Brasil, discutem se a canábis trata ou causa psicose, depressão, ansiedade e distúrbio bipolar.

Atualmente, a maconha tem sido utilizada no tratamento de stress pós-traumático em diversos estados dos EUA por veteranos da guerra no Iraque. Em Israel, casas de repouso disponibilizam canábis para idosos que sobreviveram ao holocausto. Esse tipo de tratamento, apesar de pouco estudado devido à ilegalidade da planta, não é novidade; e está entre os métodos mais comuns de tratamento que foram aplicados por iniciativa dos pacientes.

De acordo com diversos estudos desenvolvidos por Zuardi e sua equipe na USP de Ribeirão Preto, o CBD teria um papel importante como ansiolítico e antipsicótico. Estudos comprovaram que o CBD é responsável por contrapor os efeitos psicóticos subjetivos do THC e pode ser usado no tratamento contra a ansiedade e esquizofrenia.

Uma pesquisa realizada com uma paciente esquizofrênica (paciente havia sofrido efeitos colaterais fortes com medicamento tradicionais), o CBD foi aplicado durante durante 26 dias em dosagem crescente de até 1500 mg por dia, diazepam foi utilizado para amenizar momentos de muita agitação por parte da paciente. A dosagem de diazepam pôde ser reduzida de 16,3 mg por dia, para 5,7 mg por dia após o início do tratamento com CBD. O estudo indicou que os sintomas psicóticos diminuíram com a administração do CBD, e voltaram a ocorrer após o tratamento ter sido interrompido. Não houve efeitos colaterais detectáveis.

A maioria dos estudos indicando que a canábis aumenta o risco de esquizofrenia, conforme explica o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, “trazem problemas metodológicos consideráveis”. Eles costumam analisar um grupo de pacientes com esquizofrenia e verificar quantos deles fizeram uso da cannabis; ou um número de usuários de canábis e verificar quantos desenvolveram esquizofrenia. Nesse sentido, é possível encontrar uma correlação entre o uso da canábis e a esquizofrenia. E é aí que nós esbarramos na primeira regra que muitos desses estudos insistem em ignorar: correlação não significa causa.

Proibicionismo

Legalmente a maconha está colocada no mesmo patamar de drogas altamente viciantes e destrutivas como a cocaína e a heroína. A proibição acarreta diversos obstáculos para a pesquisa científica sobre a maconha, em especial sobre seus efeitos terapêuticos. Diversos mitos foram criados e publicações de pesquisas que apresentavam resultados positivos foram desconsideradas.

Como as pesquisas acerca de medicamentos in natura dificilmente interessam a iniciativa privada, os investimentos em pesquisas desse tipo costumam vir do governo. No caso da canábis, no entanto, financiamento por parte de um governo proibicionista dificilmente acontece.

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