Jovem fica em coma após ser obrigado a tomar shoyu com pimenta em trote

Polícia Civil de Minas Gerais investiga uma denúncia de trote que teria deixado um estudante em coma no município de Ouro Preto. Ayrton Carlos Almeida Veras cursava engenharia na Universidade Federal da cidade (UFOP). As informações são do Jornal Nacional

No início de 2022, após conquistar a vaga no curso, o aluno foi morar na República Sinagoga, que faz parte de uma das 59 moradias da UFOP. Essas moradias são casarões localizados no Centro Histórico da de Ouro Preto e são administradas pelos próprios estudantes.

Ao Jornal Nacional, Ayrton relatou que, por meses, enfrentou o que as repúblicas do município chamam de “batalha”, período em que novos estudantes têm que passar por testes: tarefas da casa e desafios para provar que merecem estar nos casarões.

Ayrton foi aprovado pelos estudantes já veteranos da Sinagoga e foi realizada uma festa, mas ele ficou em coma após a comemoração. A mãe de Ayrton, Regina Araújo Veras, afirmou ao telejornal da Rede Globo que o filho foi vítima de trote durante o evento.

“Eles dão uma pressão psicológica nos alunos, nos rapazes. Ele bebeu copos americanos, três copos americanos, cheios de cachaça, de pinga. Três copos americanos cheios de molho com óleo, molho de pimenta com molho shoyu. Eles deram um banho nele com balde de água gelada com pó de café. Apagou após o banho gelado e entrou em coma”, afirmou ela. 

Ayrton foi levado à UPA de Ouro Preto e chegou com sintomas que indicavam excesso de bebida. O médico que prestou atendimento ao rapaz acionou a polícia, devido ao estado de saúde do estudante. A mãe dele também relata que os médicos citaram sinais de abuso sexual, mas a família alegou que ainda não recebeu o resultado do exame.

Matrícula trancada

Após ser conduzido à UPA, o estudante foi transferido para a Santa Casa de Ouro Preto, onde foi intubado e passou 16 dias internado. Nesse tempo que ficou hospitalizado, oito dias o rapaz permaneceu na UTI.

Após ter alta, Ayrton trancou a matrícula e retornou para sua cidade, Maranhão. Desde o ocorrido o rapaz relata que faz tratamento contra as sequelas, como crise de ansiedade, queda de cabelo, problema cardíaco e perda de movimento de um pé.

“Eu não consigo mais voltar a falar. Até porque não vai ser confortável para mim, tanto emocionalmente como fisicamente. A gente é obrigado a passar por cada humilhação, e eles acham normal, eles normalizam. Fiquei decepcionado, e também decepcionado pela gestão. Eu quero que a UFOP tome atitudes, providências. Eu quero justiça. Não é o primeiro caso, são vários casos”, lamentou Ayrton em entrevista ao Jornal Nacional

Ao Terra, a Polícia Civil informou que, assim que comunicada do fato, em agosto deste ano, instaurou procedimento investigatório e segue apurando os fatos relatados na ocorrência. “Todas as informações serão repassadas com a conclusão dos trabalhos investigativos”, afirmou.

UFOP

Em nota enviada ao Terra, a universidade afirma que o trote é proibido no âmbito da UFOP, de acordo com a Resolução Cuni nº 1.870, e destaca que as apurações sobre o caso já estão ocorrendo no âmbito administrativo.

“A prática de trote na universidade pode implicar na aplicação de penalidades de advertência, suspensão ou desligamento dos estudantes envolvidos. Sendo assim, a universidade reforça a importância de as denúncias serem realizadas pelos canais oficiais da Ouvidoria. Para que seja aberto um processo administrativo, estudantes e servidores devem enviar a denúncia pela plataforma Fala.BR”, disse a instituição.

A universidade também informou que, na quarta-feira (19), recebeu o e-mail de um estudante denunciando o trote que teria sofrido dentro de uma república federal da UFOP. “Na mesma ocasião, a mesma denúncia chegou também na Ouvidoria da instituição. O estudante foi imediatamente encaminhado para acolhimento pela equipe técnica de moradia e para o acompanhamento por assistente social. Naquele momento, foi solicitado a ele que ele encaminhasse a documentação necessária para que pudesse ser aberto um processo administrativo disciplinar discente, como de fato ocorreu”, afirmou a faculdade ao portal.

O que diz a República Sinagoga

Em nota de esclarecimento publicada no Instagram, a República alega que as acusações são falsas e não têm respaldo probatório. Confira o posicionamento na íntegra:

“A República Sinagoga vem por meio desta informar que tomou conhecimento sobre as alegações publicadas em matéria jornalística do jornal “O Liberal”, na data de 21/10/2022, na qual são feitas graves acusações de suposto “trote” nas dependências da República.

Inicialmente, esclarecemos que as alegações são inverídicas e que foram publicadas de forma irresponsável pelo jornal, que não se incumbiu de verificar a realidade dos fatos, reproduzindo deliberadamente acusações sem respaldo probatório como se verdade fossem.

A República Sinagoga repudia veementemente a prática de trotes e quaisquer abusos na comunidade acadêmica, reiterando seu compromisso com as regras institucionais do sistema republicano.

Informamos também que as medidas cabíveis já estão sendo tomadas para elucidar os fatos e coibir a disseminação de notícias falsas”.

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