Pesquisadores criam uma pílula de ayahuasca, o poderoso psicodélico

Uma empresa canadense de medicamentos psicodélicos criou uma pílula de ayahuasca, o poderoso psicodélico. A empresa espera pedir autorização da FDA, agência que regula medicamentos nos Estados Unidos, para início dos testes clínicos, em 2023. A expectativa é que o produto esteja disponível como um tratamento aprovado para doenças mentais, como depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), em cerca de dez anos.

“O desenvolvimento de medicamentos é longo e caro… no mínimo, um curso típico de desenvolvimento de medicamentos leva de cinco a sete anos, e estamos apenas nos estágios iniciais agora”, disse Ben Lightburn, CEO da Filament Health, ao jornal canadense Toronto Star.

Como muitos psicodélicos, drogas que alteram o nível de consciência, a ayahuasca – um chá feito da mistura de duas plantas amazônicas – está sendo apresentada como um tratamento alternativo para doenças mentais. Um estudo realizado pela pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), publicado em 2019 no periódico britânico Psychological Medicine, mostrou que a ayahuasca é eficaz no tratamento do tipo de depressão mais severa, aquela que não responde aos medicamentos disponíveis atualmente.

Nesse estudo em particular, foi utilizado a forma tradicional da ayahuasca e não uma versão sintética, como a produzida pela empresa canadense. A ayahuasca é feito da mistura de duas plantas encontradas apenas na Floresta Amazônica: as folhas do arbusto Psychotria viridis e do cipó Banisteriopsis caapi. A primeira contém o composto dimetiltriptamina (DMT), um dos alucinógenos mais potentes do mundo e que seria responsável pelo efeito terapêutico da bebida.

A segunda, é rica em um composto conhecido como “inibidor da monoamina oxidase” (MAOI), que impede que as enzimas do corpo quebrem os efeitos psicoativos da Psychotria viridis. A maioria das versões sintéticas focam apenas no DMT, mas um grupo cada vez maior de pesquisadores, incluindo aqueles da UFRN e da Filament Health afirmam que os efeitos benéficos da ayahuasca para a saúde mental estão associados à combinação das plantas e não apenas ao DMT. Por isso, os cientistas da empresa canadense criaram uma pílula sintetizada a partir da preparação tradicional, o que inclui o composto derivado do cipó.

Como o LSD e a psilocibina (o ingrediente psicoativo dos cogumelos mágicos), o DMT demonstrou sua capacidade de aumentar a conectividade entre diferentes redes cerebrais impedidas por depressão e trauma. Do ponto de vista fisiológico, o DMT age contra a depressão ao se ligar aos neurônios, aumentando a disponibilidade de serotonina. Já o cipó contém substâncias que facilitam a ação da primeira, mantendo a serotonina por mais tempo em circulação no organismo.

A ayahuasca é tipicamente a estrela da experiência psicodélica. O composto aumenta a conectividade entre diferentes redes cerebrais e a plasticidade sináptica. Isso provoca alucinações poderosas e distorce a visão da realidade. Por isso, ela é proibida em muitos países. O Brasil é um dos poucos países que liberam o consumo do chá, mas apenas em rituais de doutrinas específicas. Isso faz com que esses locais sejam muito procurados por turistas que buscam os efeitos terapêuticos da bebida.

Nos rituais religiosos, o chá é normalmente administrado por um xamã ou guia. No estudo da UFRN, o chá foi administrado em um quarto de hospital, preparado para proporcionar um ambiente de tranquilidade, na presença de dois pesquisadores.

Nos últimos anos, houve um aumento do interesse do uso de psicodélicos no tratamento de doenças mentais. Os principais fatores que motivaram isso foram o crescimento do número de pessoas com esses problemas e a ausência de novos tratamentos, altamente eficazes.

O estudo mais avançado é com o MDMA, o princípio do ecstasy, no tratamento do transtorno pós-traumático. A expectativa é que a aprovação aconteça em 2023. Em seguida, está o uso da psilocibina, substância alucinógena dos cogumelos mágicos, para depressão.

A Filament já iniciou os testes clínicos nos EUA e no Canadá da cápsula PEX010. Trata-se de um tratamento à base de psilocibina, composto psicoativo dos cogumelos mágico, para depressão grave.

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