A penitência pela nossa juventude? A juventude de nossos filhos!

1

Se num passado distante, podemos nos lembrar das discussões e argumentações com nossos pais, certamente no presente, temos a fresca memória de tudo que tentamos, por vezes em vão, passar para nossos filhos. Ainda que todas as gerações diferenciem-se entre si, os valores e sentimentos costumam ser os mesmos: zelo de pai e mãe, sabedoria de avô e avó e crença do filho (a) adolescente, de saber mais do que todos os anteriores juntos.






Como quase tudo na vida, filho não vem com manual de instrução. Cada um é um ser humano único e diferente, com necessidades diversas das nossas e sonhos muitas vezes opostos. Ainda que andemos todos em busca da tal felicidade, o que é a realização para um, pode vir a ser pesadelo para outro. E assim por diante.
Meu pai, certamente, queria ter me visto médica ou advogada. Profissões que formam doutores e pessoas bem sucedidas na maioria das vezes, mas que nunca chegou nem perto de ser algo agradável à minha personalidade. Percorri caminhos estranhos, tortuosos e não muito claros. Dei passos por mim mesma, quase sempre independente dos conselhos que recebi. E algumas vezes imposições, que surtiram efeitos absolutamente contrários.





Nunca fui grande transgressora. Mas transgredia de meu mundo, sendo o que queria ser. Dona de mim mesma, num tempo em que supostamente os pais deveriam ter sido, já era ato revolucionário.
Mas hoje os tempos são outros. A geração X, da qual faço parte, respeita mais as vontades dos seus filhos. Demos de tudo aos nossos rebentos da geração Y e impusemos neles mais direitos do que deveres. Tiramos assim um pouco da garra que nossa própria geração esbanjava. Ficamos diferentes daqueles que criamos para serem iguais: os nossos.
Querendo ou não, parece haver uma lei natural da vida, que coloca todos nós, de geração em geração, a repetir as mesmas histórias. Quando crianças, vemos em nossos pais os heróis. Na adolescência, eles deixam de ser os mocinhos e passam para o papel de vilões. E só na vida adulta, quando também nos tornamos pais, é que deixamos de lado as fantasias infantis e adolescentes e finalmente os enxergamos como realmente são: seres humanos comuns, vulneráveis e frágeis. Exatamente como nós mesmos.





Num ciclo que nunca se finda, os novos seres sempre acreditam que serão melhores que os anteriores. E felizmente o são em vários aspectos. Num mundo em evolução, o que muda de uma geração para outra, certamente, é o que melhor se adapta a um mundo em constante transformação.
Já adultos, temos consciência, de que nem tudo que vem com as novas gerações é melhor do que o das anteriores. Sempre há perdas e ganhos. E sabedoria é qualidade que se adquire com a vida e com o tempo. Não são conselhos que a imputem em alguém. E por isso mesmo, estamos fadados a continuar este ciclo de constantes estranhamentos e dificuldades entre uma geração e outra.
Aqueles que já tem seus filhos razoavelmente crescidos vivenciam essas palavras de forma clara. Não há escapatória de tão árduo destino.
Ironia ou não, deve ser a sabedoria da vida, que nos faz pagar hoje, o que um dia fizemos. Pagamos através de nossos filhos o que também fizemos para nossos pais.
Simplesmente uma penitência natural da vida.

About the Author Carolina Vilanova

Carolina Vila Nova é brasileira. Tem cidadania alemã, 40 anos. Escritora e Roteirista. É autora dos seguintes livros: “Minha vida na Alemanha” (Autobiografia), “A dor de Joana” (Romance), “Carolina nua” (Crônicas), “Carolina nua outra vez” (Crônicas), “Vamos vida, me surpreenda!” (Crônicas), “As várias mortes de Amanda” (Romance), “O dia em que os gatos andaram de avião” (Infantil), "O Milagre da Vida" (Crônicas) e "O beijo que dei em meu pai" (Crônicas). Disponíveis na Amazon.com e Amazon.com.br Mais matérias em: www.carolinavilanova.com

follow me on:

Leave a Comment: